Pelo menos 36 pessoas já morreram em confrontos na área da fronteira entre o norte e o sul do Sudão, disseram líderes da disputada região de Abyei nesta segunda-feira, no segundo dia do referendo que pode levar à independência do sul sudanês.
Analistas dizem que a região de Abyei é o local mais propenso à violência durante e depois do referendo no sul, que marca o auge de um turbulento processo de paz após décadas de guerra civil.
Há ampla expectativa de aprovação da independência pelo eleitorado do sul, uma área de maioria cristã e animista, com afinidades com a África Subsaariana. Isso privaria o norte, árabe e muçulmano, da maior parte das suas reservas petrolíferas.
Luka Biong, alto funcionário do governo sulista, condenou a violência e disse à Reuters que ambos os lados ainda estão tentando resolver a disputa pela posse de Abiey, como parte de um pacote de negociações que inclui também a divisão dos dividendos petrolíferos após a eventual secessão.
Paralelamente, e num tom mais otimista, o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter disse à CNN nesta segunda que o presidente do Sudão, Omar Hassan al Bashir, se comprometeu a assumir todas as dívidas do país caso o sul se torne independente.
A oferta, se confirmada, seria um importante gesto de conciliação por parte de Bashir, e pouparia o sul de um grave ônus fiscal em seus primeiros dias de independência.
Membros da tribo dinka ngok, que vive em Abyei e tem ligação com o sul, acusaram o governo do norte de ter armado milícias árabes chamadas Misseriya, que se envolveram em confrontos na sexta-feira, sábado e domingo. Os líderes tribais disseram antever mais violência.
Charles Abyei, presidente da administração da região homônima, disse que a milícia Misseriya atacou por causa de boatos de que os dinka iriam se declarar parte do sul.
"Um grande número dos Misseriya atacou a aldeia de Maker ontem (domingo), apoiados por uma milícia do governo. No primeiro dia uma pessoa morreu, no segundo dia, nove; ontem, 13 (...). Isso vai continuar", disse.Mokhtar Babo Nimr, líder da Misseriya, disse à Reuters que 13 dos seus homens morreram no confronto de domingo, e acusou os sulistas de terem iniciado os distúrbios.
Os moradores de Abyei, que fica no centro do Sudão, receberam a promessa de um referendo próprio para decidirem se ficarão com o norte ou o sul, mas os líderes locais não chegaram a um acordo sobre como realizar a votação, que afinal não ocorreu, como planejado, no dia 9 de janeiro.
Uma fonte da ONU disse, sob anonimato, que houve outro confronto na manhã desta segunda na aldeia de Todach.
A fonte disse que a milícia Misseriya estava atacando postos policiais na área, por suspeitarem que eles estão sendo ocupados por soldados do sul. Essa fonte acrescentou que o número de mortos pode ser bem maior. "Ambos os lados estão escondendo suas baixas," disse a fonte, acrescentando que a polícia do sul e jovens dinkas foram envolvidos no tiroteio.
No resto do sul do Sudão, a votação transcorreu em clima de tranquilidade.
Em visita aos Emirados Árabes Unidos, a secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, disse a votação relativamente tranquila " pode ser um grande exemplo de final pacífico para um antigo conflito".