O presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou nesta sexta-feira que os policiais que começaram um protesto ontem no país e, mais tarde, o cercaram no hospital onde estava refugiado queriam matá-lo. Correa disse que só foi salvo graças à prontidão do grupo de operações especiais da polícia, que se manteve leal à presidência. Correa fez um agradecimento especial ao grupo, que protegeu o Hospital da Polícia Nacional, onde ele se abrigou contra os manifestantes. "Se não fosse por eles, essa horda de selvagens que queria me matar, que queria sangue, teria entrado no hospital para procurar o presidente e eu provavelmente não estaria contando isso a vocês, porque teria passado para uma vida melhor", disse.
Na noite desta quinta, uma operação militar foi realizada para resgatar o presidente do hospital onde ele estava cercado pelos policiais em protesto. A operação de resgate deixou dois mortos e 37 feridos, informou um porta-voz da Cruz Vermelha. "Dois policiais morreram após serem levados para o hospital", disse Fernando Gandarillas, porta-voz da entidade. Ainda segundo ele, 37 pessoas se feriram na troca de tiros entre forças leais ao governo e os policiais que protestavam. Os policiais, acompanhados por alguns militares, protestavam contra uma lei que tira parte de seus rendimentos. Correa disse que não pretende recuar nessa legislação.
Após o resgate, Correa voltou ao palácio presidencial e anunciou que o levante foi uma tentativa de golpe das forças oposicionistas. O comandante da polícia do Equador, general Freddy Martínez, renunciou em meio à rebelião policial. A informação foi divulgada por um porta-voz da polícia, que pediu anonimato.
Na manhã da quinta-feira, policiais tomaram o controle dos principais quartéis da polícia, em uma rebelião que se espalhou por Guayaquil e Cuenca. A polícia invadiu o Congresso e forças de segurança tomaram também o aeroporto internacional de Quito. Correa tentou falar diretamente aos policiais em greve, mas os manifestantes responderam com bombas de gás lacrimogêneo e por isso o presidente acabou se refugiando no hospital policial.
Unasul
Os líderes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) condenaram nesta sexta-feira a instabilidade no Equador como uma "tentativa de golpe", e pediram que os responsáveis sejam julgados e punidos. Os membros da Unasul reafirmaram ainda seu "apoio ao governo constitucional" de Correa, disse o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Héctor Timerman. Os líderes sul-americanos disseram que "não vão tolerar qualquer novo ataque à autoridade institucional" na região.
Vários dos líderes da Unasul tiveram uma reunião de emergência ontem, em Buenos Aires. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu, mas o Brasil foi representado pelo ministro interino das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Estiveram os presidentes do Peru, Alan García, da Venezuela, Hugo Chávez, do Chile, Sebastián Piñera, da Bolívia, Evo Morales, da Colômbia, Juan Manuel Santos, do Paraguai, José Mujica, e da Argentina, Cristina Kirchner. "Nós podemos celebrar o fato de que Correa está livre", disse Cristina.
Os líderes lembravam a crise ocorrida no ano passado em Honduras quando um golpe depôs o presidente Manuel Zelaya. García disse que é necessário responder "com toda a força necessária à tentativa de golpe". Segundo o líder peruano, "agora é hora de testar se a Unasul é boa para alguma coisa". Morales avaliou que "defender a democracia no Equador é defender a democracia na América Latina. Já Piñera também se disse feliz pelo fato de Correa estar livre, mas ressaltou que os líderes da região "exigem que a ordem constitucional, o Estado de Direito e a democracia sejam restabelecidos". As informações são da Dow Jones.
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