A pátria da democracia na mão de Zeus
Na mitologia grega, Dédalo era aquele brilhante arquiteto que inventou o labirinto para prender o Minotauro, monstro fabuloso (parte homem/parte touro) que tinha tornado-se feroz e incontrolável. Em 2012, não se trata mais do Minotauro, pois o monstro, não menos feroz, tem um outro rosto : a crise financeira que está afundando a Grécia desde 2010 parece não ter mais êxito.
As negociações realizadas ontem entre os líderes dos principais partidos gregos para tentar alcançar um acordo para a formação de um governo fracassaram novamente, aumentando os temores de que a convocação de novas eleições possa levar o país à quebra e à saída da zona do euro.
Após um dia de reuniões lideradas pelo presidente do país, Carolos Papulias, Fotis Kuvelis, líder da minoritária Esquerda Democrática (Dimar), anunciou à noite que não havia acordo. "O presidente me disse que não existem perspectivas de formar um governo de unidade", disse Kuvelis.
Pouco depois, a televisão estatal NET anunciou que as negociações continuarão hoje a partir das 16h30 no país (13h30 de Brasília), quando Papulias voltará a receber os líderes dos três partidos majoritários nas eleições do último dia 6 (conservadores, esquerda radical e socialistas), junto com o líder de uma pequena legenda da esquerda moderada.
Se não houver acordo de governo até amanhã à noite, data na qual será constituído o novo Parlamento, serão convocadas novas eleições legislativas em junho.
Essa instabilidade política poderá levar os dois grandes credores públicos dos gregos, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), a congelar novos empréstimos fechados com Atenas em meio ao plano de resgate financeiro em troca de reformas.
Segundo a imprensa oficial, o Estado grego só tem dinheiro para pagar os salários dos funcionários públicos e as aposentadorias até o fim de junho.
Fracassos
Ao longo da semana, cada um dos três partidos mais votados fracassou ao tentar formar uma coalizão de governo viável.
Os analistas políticos consideram que, em caso de novas eleições, o Syriza poderia desta vez ocupar o primeiro lugar. O partido é radicalmente contra o plano de austeridade da União Europeia e do FMI.
O líder socialista do Pasok, Evangelos Venizelos, declarou após a reunião de ontem que não lhe restava mais que um "limitado otimismo" e que a situação seguia em um "beco sem saída". O conservador Antonis Samaras, por sua vez, afirmou que o Syriza se negou a apoiar a coalizão governamental, mesmo com o compromisso de "renegociar" o acordo. "Fiz todo o esforço possível para assegurar uma cooperação universal", disse.