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O golpe de Estado em Honduras aprofundou neste ano a divisão ideológica na América Latina e debilitou a influência do presidente norte-americano, Barack Obama, sobre uma região que vê o vizinho do Norte com desconfiança.

Ao aceitar o resultado das eleições posteriores ao golpe de Honduras, questionadas por boa parte da América Latina, Obama acirrou a polarização que havia prometido atenuar quando sugeriu, no começo do seu mandato, um reinício das relações bilaterais.

"Aqui perdeu todo mundo. A primeira vítima foi a confiança no consenso pan-regional. A partir de agora será mais difícil coordenar respostas regionais perante uma crise", disse Christopher Satabini, diretor de políticas do Council of Americas, entidade com sede em Nova York.

O golpe militar que derrubou o presidente Manuel Zelaya em 28 de junho desencadeou a pior crise política da América Central nas últimas décadas, virando uma dor de cabeça para Obama.

Isolado diplomática e financeiramente pela comunidade internacional, o governo de facto hondurenho limitou-se a aguentar até as eleições de 29 de novembro, com a esperança de virar a página da crise. O pleito transcorreu sem maiores incidentes, com a vitória do conservador Porfirio Lobo.

"A estratégia era ganhar tempo. Eles sabem que era só questão de esperar", disse Kevin Coleman, pesquisador da Universidade de Indiana, Bloomington, especializado em Honduras.

"O regime de facto recebeu além do mais sinais ambíguos dos Estados Unidos, o que lhes deu suficiente margem de manobra", acrescentou.

Depois do golpe, o governo Obama cortou ajuda financeira e militar a Honduras, cancelou vistos a empresários que apoiaram a destituição de Zelaya e pressionou por um pacto que incluía a volta do presidente deposto ao poder. Mas, diante da resistência do governo de facto, no começo de novembro Washington jogou a toalha e admitiu que a eleição seria uma saída para a crise.

Há quem diga que essa era a única alternativa para os EUA.

"Os Estados Unidos foram os primeiros a adotar uma atitude pragmática. Mas foi uma decisão que custou caro e terminou com a lua de mel do governo (Obama) com a América Latina", disse Heather Berkman, da consultoria Eurasia Group, em Washington.

Até agora, só Colômbia, Costa Rica, Panamá e Peru seguiram os passos de Obama e aceitaram as eleições como sendo a saída para a crise.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, e outros líderes de esquerda disseram que o golpe em Honduras demonstra a "ofensiva imperial" dos Estados Unidos na América Latina.

Mas a discordância com o governo Obama é evidente também com relação a países como o Brasil, em cuja embaixada Zelaya continua refugiado, e a Argentina.

"Estamos dando o sinal de que neste ambiente polarizado pode-se interromper um governo democrático com impunidade, se alguém encontrar aliados ideológicos que o justifiquem", disse Sabatini.

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