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Cristina Kirchner se compara a Dilma e culpa mídia e Justiça por investigações

Dilma Rousseff  e Cristina Kirchner durante encontro dos chefes de Estado do Mercosul em 2015 | Ueslei Marcelino/Reuters
Dilma Rousseff e Cristina Kirchner durante encontro dos chefes de Estado do Mercosul em 2015 (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)

Para Cristina Kirchner, ex-presidente da Argentina, o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff é resultado da intervenção da mídia e da Justiça na política.

“Há claramente a aparição de um partido midiático, que julga publicamente, de um partido judicial, que é como um espelho desse partido midiático, e de um setor que intervém por meio dessas duas vias na região [América do Sul]”, disse a ex-mandatária a seis jornalistas na última quinta-feira (21).

De acordo com Cristina, essa intervenção é vista claramente no Brasil, com o impeachment, e também na Argentina, onde ela vem sendo investigada na Justiça por lavagem de dinheiro, falsificação de documento público e má administração de recursos públicos.

A entrevista, que foi divulgada neste sábado (23), foi a primeira concedida pessoalmente pela ex-dirigente desde que deixou a Casa Rosada, em dezembro.

Ela recebeu, em sua casa em El Calafate, no sul da Argentina, repórteres das redes Al Jazeera e Telesur, do jornal mexicano La Jornada, das agências de notícias Reuters e Sputnik, além do site nacional Nodal. No início de julho, Cristina já havia falado ao vivo por telefone com um jornalista do canal de TV C5N.

Em uma entrevista com poucas perguntas, mas prolongadas respostas, a ex-chefe de Estado afirmou que a América Latina vive um retrocesso do que foram os governos “nacionais e populares” dos partidos de esquerda. Hoje, disse ela, há um avanço da direita “conservadora”, que está abandonando as preocupações com os problemas sociais e com a ideia de unidade regional.

De acordo com a ex-presidente, a mudança na região decorre da aproximação dos países latinos com a China e a Rússia, o que não foi bem-visto pelos Estados Unidos.

Sobre sua situação judicial, Cristina frisou não se preocupar com a possibilidade de ser presa. “Se eu tivesse medo, não teria feito as coisas que fiz no meu governo e possivelmente nunca teria militado desde muito jovem. Ser peronista neste país nunca foi fácil nem grátis”, destacou.

“Quando alguém decide que os responsáveis pelo genocídio [durante a ditadura] devem ser julgados e que os trabalhadores devem ter um salário que os permita viver dignamente e mover a economia, é claro que se corre o risco de ir para a prisão ou de ser perseguido politicamente. Mas são riscos que devem ser assumidos.”

A Justiça argentina analisa os vínculos entre a ex-mandatária e empresários que venceram grande parte das licitações nos últimos 12 anos. Um deles, Lázaro Báez, preso desde abril sob a acusação de lavagem de dinheiro, era um dos melhores amigos de Néstor Kirchner.

Báez é suspeito de alugar imóveis e quartos de hotéis das empresas dos Kirchner como forma de pagamento de propina. Cristina, que teve seus bens e contas bancárias embargadas, afirmou -mais uma vez- ser perseguida e acrescentou que poderá recorrer a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Ela também voltou a defender que se faça uma auditoria nas obras públicas realizadas durante sua gestão para provar que não houve desvios. O secretário de obras de seu governo, José López, foi detido ao ser encontrado tentando esconder US$ 8,9 milhões em espécie em um convento na Grande Buenos Aires.

“Acredito que o que ocorreu com esse ex-funcionário, e não quero minimizar nada, pode acontecer com qualquer governo.”

Críticas a Macri

Cristina ainda aproveitou para defender suas políticas econômicas e criticar seu sucessor, Mauricio Macri. Destacou que, em dezembro, quando deixou a Presidência, o país estava com o menor nível de endividamento e que o desemprego estava em um patamar baixo. Também lembrou dos reajustes tarifários promovidos por Macri.

Sob o kirchnerismo, o Estado manteve subsídios aos setores de energia, transporte e água. Macri decidiu acabar com essas ajudas financeiras para reduzir o deficit fiscal, que alcançou 6,1% do PIB em 2015, último ano de Cristina. O fim dos subsídios, porém, significou aumentos de 500% nas contas dos serviços.

“Agora até criticam quem usa aquecedor. Eu pelo menos nunca critiquei nenhum argentino que ligava o ar condicionado ou o aquecedor. Ao contrário, foi durante nosso governo que milhões de argentinos compraram ar condicionado”, disse a ex-presidente.

Nas últimas semanas, Macri pediu várias vezes para que a população economize energia e, em um discurso, disse que, se as pessoas estão de camiseta e descalças dentro de casa durante o inverno, é porque estão consumindo muita energia.

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