Depois de sobreviver à crise econômica provocada pelo colapso da União Soviética, Cuba assume a liderança do Movimento dos Países Não-Alinhados com a esperança de capitalizar o sentimento antiamericano no mundo.
Nos últimos anos, o regime comunista da ilha desenvolveu fortes alianças com países petroleiros, como Venezuela e Irã. Agora, pretende transformar o movimento, fundado na década de 1960 como contrapeso à bipolaridade de EUA e URSS na época, em uma entidade assumidamente antiamericana.
Especialistas dizem, porém, que o movimento está dividido e tem pouca influência. Entre seus membros há aliados dos EUA, como Índia e Paquistão, e inimigos, como o Irã, citado pelos EUA como parte do "eixo do mal."
"A presidência do Movimento dos Países Não-Alinhados é mais importante para Cuba do que para outros países, por causa do constante esforço cubano para demonstrar que o país não está diplomaticamente isolado, apesar dos esforços dos EUA", disse Phil Peters, especialista em Cuba no Instituto Lexington, que funciona nos arredores de Washington.
A eleição de presidentes esquerdistas na América Latina, como Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia) e as polêmicas sobre a guerra ao terrorismo movida pelos EUA e os conflitos no Oriente Médio fortalecem a posição cubana.
"Nosso país nunca fez nada assim. Vejo nosso país cercado por uma crescente simpatia no mundo", disse Fidel neste ano, referindo-se aos escândalos da tortura a presos no Iraque e em Guantánamo e das prisões secretas da CIA (agência de inteligência americana) na Europa.
Uma política externa ativa sempre foi parte central do regime de Fidel, o que impulsiona sua imagem tanto dentro como fora do país, desde que a instalação do regime comunista na revolução de 1959.
Fidel nunca se satisfez apenas com o governo de uma ilha caribenha de 11,2 milhões de habitantes e recursos naturais restritos.
Na década de 1990, com o fim dos subsídios soviéticos, a ilha esteve perto do colapso e sofreu um isolamento, agravado pelo embargo econômico imposto pelos Estados Unidos.
Novo veículo
Agora, o país vê no Movimento dos Países Não-Alinhados um novo veículo para sua influência. Fundado em 1961 por países do Terceiro Mundo para evitar um alinhamento fosse com os EUA fosse com a União Soviética, o grupo busca uma nova razão de ser desde o fim da Guerra Fria.
Fidel, afastado do poder desde 31 de julho por causa de uma cirurgia intestinal, não liderou a reunião, mas as autoridades dizem que ele está se recuperando e deve ser visto como o novo líder da organização que conta com 116 países.
Julia Sweig, diretora para América Latina do Conselho de Relações Exteriores, de Nova York, disse que o movimento pode ser "um pára-quedas de ouro perfeito" para Fidel caso ele se recupere.
"Cuba e Fidel, à maneira deles, estão no seu melhor momento quando têm um grande papel internacional a desempenhar", afirmou ela.
Mesmo que Fidel não recupere sua vitalidade anterior, a liderança cubana no movimento pode ajudar a promover uma nova geração de líderes na ilha.
Fidel já presidiu o Movimento dos Países Não-Alinhados em 1979, quando tropas cubanas lutavam ao lado de marxistas na guerra civil de Angola. Agora Cuba não exporta mais soldados, e sim médicos, professores e técnicos, especialmente para a América Latina.
Havana mantém relações diplomáticas normais com todos os países do Hemisfério Norte, exceto EUA, El Salvador e Costa Rica.
- A ajuda médica de Cuba e as bolsas de estudo são boas para sua imagem e para sua política externa num momento em que não há mais Guerra Fria e em que os movimentos revolucionários que Cuba apoiava desapareceram - disse Peters.
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