Há 20 anos, uma imagem de Jesus Cristo em plena Praça da Revolução, no coração de Havana, seria impensável. Famosa pelos desenhos gigantes dos rostos de Che Guevara e Camilo Cienfuegos, grandes nomes da Revolução Cubana, ao lado de Fidel Castro, a praça é localizada em área militar, com vigilância do Exército. Mas a ilha se enfeitou para receber, hoje, o Papa Francisco. O enorme cartaz de plástico será retirado tão logo o Pontífice parta em direção aos EUA. Mesmo assim, é um sinal dos novos tempos.
A chegada do chefe da Igreja Católica ao país comunista desperta diferentes reações entre os cubanos — alguns esperançosos, outros nem tanto. “Vejo diferentes ideais reunidos de uma certa forma aqui nesta praça, sinal de que podemos conviver juntos”, pontua o maestro José Antonio Mendez, agnóstico que irá reger a orquestra em uma das três missas do Papa em solo cubano.
Corredores da cidade e o centro de Havana já estão decorados com bandeiras nas cores do Vaticano e de Cuba, lado a lado. Muitas avenidas receberam uma camada de asfalto. Leticia Perez López, técnica de informática, trabalha no Centro de Havana, onde pedreiros pintaram o meio-fio para a passagem de Francisco. “Todas as visitas de Papas fizeram com que algo mudasse em Cuba. Alguns temas são abordados, as pessoas começam a falar de assuntos que muitas vezes são evitados, e isso já é um avanço.”
À medida que o fim de semana se aproximava, a quantidade de trabalhadores aumentava. Guindastes e caminhões usados para o conserto de buracos e pavimentação de avenidas eram vistos com uma frequência peculiar. Mas, mesmo agradecida pelas melhorias da cidade — famosa pela deterioração das ruas e das casas — parte da população está indignada com o fato de o governo agir apenas nas vésperas de uma visita que irá colocar Cuba sob holofotes internacionais. A instalação de um letreiro luminoso na rodoviária serviu de deboche para um grupo de jovens universitários. No local, antes, havia uma placa de metal enferrujada. “Tudo só por causa do Papa”, riram.
Gabriel Silva Gonzalez, jornalista de Holguín, uma das três cidade que Francisco visitará nos quatro dias no país, é mais otimista em relação à presença do Pontífice na ilha. “Acredito que a visita seja capaz de trazer transformações. Muitas das mudanças em Cuba têm a ver com a relação com os Estados Unidos, um ponto onde Francisco já colaborou muito. E vejo que ele não quer se destacar como um mediador, mas é alguém que agora quer ouvir”, afirma ele. “Até agora, tudo está num nível muito conceitual. As pessoas querem ver mudanças na nossa realidade, nos salários. Quero ir ao mercado e perceber que a vida está melhor.”
Ainda assim, o Cristo na Praça da Revolução indica uma mudança de postura do regime desde que Fidel liderou a entrada dos revolucionários em Havana, em 1959. “As pessoas não se esqueceram de quando imagens que decoravam as casas foram jogadas dos prédios”, lembrou uma religiosa na praça.
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