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Otimismo

Cúpula das Américas deve servir para "quebrar o gelo" entre países

Barack Obama recebe exemplar de "As veias abertas da América Latina" das mãos de Hugo Chávez | Reuters
Barack Obama recebe exemplar de "As veias abertas da América Latina" das mãos de Hugo Chávez (Foto: Reuters)

Se "Cúpula das Américas" pode parecer um assunto um tanto monótono e burocrático, vamos colocar da seguinte forma: este quinto encontro entre as nações do continente vai servir basicamente como um primeiro encontro entre duas pessoas. E o encontro aqui citado pode ser visto tanto entre empresas como pessoal.

Analistas ouvidos pelo G1 acreditam que a quinta edição, aberta na sexta-feira (17), trará de novo a postura mais ‘humilde’ dos Estados Unidos, tudo para que possa se aproximar não de meia dúzia de nações, mas de quase todas.

No caso, e apenas para ilustrar o que deve acontecer de prático no encontro em Port of Spain, em Trinidad e Tobago, é o caso de amigos tentarem ‘desencalhar’ duas pessoas conhecidas entre si com um encontro em um restaurante. Tudo para que ambos, no mínimo, se transformem em bons amigos.

A Cúpula das Américas chega a sua quinta edição. Iniciada em 1994, em Miami, e realizada em média a cada quatro anos (as outras foram em 1998, 2001 e 2005), engloba os países com chefes de Estados eleitos democraticamente. Daí a exclusão de Cuba dos encontros. Daí mais uma razão para os conflitos.

Assim sendo, Cuba acaba sendo um ponto em conflito para que o jantar entre as pessoas (no caso, nações) possa se tornar um sucesso. No último dia 13, os EUA levantou restrições de viagens à ilha e de remessas de dinheiro feitas por cubano-americanos para suas famílias que moram em Cuba, entre outras ações. O embargo comercial, porém, segue em pé. Assim como as relações tumultuadas entre os países bolivarianos.

Seguindo com a ilustração: veja a reunião de líderes como um jantar entre duas pessoas, no caso Estados Unidos e Venezuela, e que foi promovido entre os amigos mais próximos de cada um deles, no caso, Chile, Brasil, Bolívia e Equador, que também estarão sentados à mesa do restaurante para ajudar a ‘quebrar o gelo’.

Para ajudar a quebrar barreiras colocadas anteriormente por relações que não deram certo, principalmente por conta da postura do ex-presidente americano George W. Bush, Barack Obama, representando os norte-americanos, não vai com um carro esportivo com a capota levantada, terno e gravata de seda e o som estourando em decibéis. Mas de boné, calça de sarja, camiseta pólo e com um sorriso aberto. No som, algo mais próximo de MPB. Do outro, Hugo Chávez, representando logicamente a Venezuela, e mais Bolívia e, claro Cuba, vem com sua roupa militar ou vermelha. Cara sisuda, não sabendo exatamente o que esperar do outro lado, já que nos últimos oito anos (duas cúpulas) sempre se acostumou a ver e não ouvir Bush.

Analistas

"Os EUA não chegam com um plano pré-concebido e já costurando com seus aliados mais próximos para traçar o plano deles meio que na marra. Isto é uma mudança importante. Esta mesma postura foi tomada na Otan e no G-20. Os EUA mais ouviram do que levaram coisas prontas. Este é um ponto importante na diplomacia americana. Nas últimas décadas os EUA chegaram com uma proposta já fechada", afirmou Luiz Augusto Estrella Faria, professorde Relações Internacionais e Economia da UFRGS. "Vai ser um começo diferente na relação principalmente entre Chávez e Obama, diferentemente do que foi entre Chávez e Bush. Agora, Obama vai ouvir. Não quer dizer que ele vai acreditar ou colocar em prática, mas vai ouvir", completou.

O professor Rafael Duarte Villa, professor de relações internacionais do departamento de ciências polícias do instituto de relações internacionais da USP, acredita que a quinta edição da cúpula servirá para as partes interessadas ‘trocarem os cartões de visita’.

"Sem dúvida o ponto diferente deste encontro é que deixa de lado a discussão sobre algumas temáticas tradicionais de outros encontros, fundamentalmente como sobre economia, sobre zona de livre comércio, narcotráfico, terrorismo. O centro da agenda é Cuba e a possibilidade de reintegração dela ao conjunto interamericano", afirmou. "Os EUA precisam dizer para Chávez a mesma coisa que disse o (presidente da Espanha, José Luis Rodríguez) Zapatero quando começou o seu governo. A época de (ex-presidente espanhol José María) Aznar com Chávez foi de enfrentamento. Quando começou, Zapatero disse inteligentemente para Chávez para começarem do zero. Pode ser uma atitude também dos países bolivarianos. Um processo de aproximação com os Estados Unidos", disse.

Charles Pennaforte, diretor do Centro de Estudos em Geopolitica e Relacões Internacionais do Rio de Janeiro (Cenegri), crê que os Estados Unidos, ou basicamente Barack Obama, estão no caminho certo com relação à América Latina.

"A ideia do governo Obama é apagar a tradição do período Bush, que relegou para o segundo plano a América Latina", afirmou. "A discussão tende a avançar, o encontro vai ser positivo porque será o primeiro encontro geral de Obama com os outros governos da América Latina. A Venezuela ainda é reticente, mas será um exercício de diplomacia de Obama. A marca de Chávez é a retórica antiamericana, mas Obama é esperto neste aspecto, ele tentará apagar este período anterior do Bush", disse.

Todos estão de acordo que mudanças não devem acontecer a curto prazo, que a Cúpula não trará alterações nos rumos das negociações a partir das próximas semanas. Assim sendo, o melhor é que cada um continue enviando flores e chocolates para os outros. Ao menos mal não vai fazer.

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