Há uma semana, a vida de Yahya Dabassa Ibrahim mudou completamente. Ibrahim é um dos presos palestinos libertados por Israel na semana passada, em troca do soldado Gilad Shalit, que há mais de cinco anos vivia em cativeiro sob custódia do Hamas na Faixa de Gaza. Ibrahim hoje mora em um hotel de luxo na cidade de Gaza, já que, como parte do acordo, está impedido de voltar para sua cidade natal, Belém.
Ibrahim faz parte da primeira leva de prisioneiros libertados por Israel, ao todo foram 260. Destes, 130 foram impedidos de voltar para Cisjordânia ou para Jerusalém Oriental pois seriam altamente perigosos. Sem ter onde se hospedar em Gaza e recebendo tratamento digno de heróis de guerra, o Hamas hospedou 60 ex-detentos no luxuoso al-Mashtal Hotel, inaugurado em julho passado, informou reportagem do "Washington Post".
"É muito gratificante para a gente", disse Ibrahim, que foi condenado por construir bombas para ataques contra Israel, ao jornal americano. "Estar neste hotel... Eu constantemente me pergunto se é verdade que estou fora da prisão."
A troca de prisioneiros foi uma vitória política para o Hamas, uma conquista histórica, dizem os líderes do grupo. O Hamas se comprometeu desde a libertação dos presos cuidar de cada um com o mesmo zelo e a preocupação de uma nação que recebe prisioneiros de guerra.
Ibrahim, agora com 50 anos, serviu 10 anos de uma sentença de prisão perpétua. Ele estava entre os prisioneiros que vem greve de fome após Israel retirar certos privilégios dos detentos palestinos, como acesso à televisão. Mesmo após o tempo preso, Ibrahim foi claro: não se arrepende de ter participada da luta armada. "Nós sacrificamos parte de nossa vida não para ficar em hotéis como este, mas para libertar a Palestina", disse.
Um oásis de luxo em meio à miséria de Gaza
Apesar do embargo imposto por Israel, material de construção pode entrar em Gaza, mas só se for comprovado que será usado para construções civis. Além disso, muitos suplementos chegam pelo Egito por túneis subterrâneos. A construção do Hotel Al-Mashtal começou há cerca de uma década, mas só em meados deste ano ele foi inaugurado, como parte de uma cadeia de hotéis espanhola. De lá para cá, o local virou ponto de encontro de executivos visitantes, autoridades do Hamas e famílias palestinas ricas.
Mas a chegada dos prisioneiros, sem dúvida, levantaram o hotel, já que todas as contas estão sendo pagas pelo próprio Hamas. A diária de suíte normal custa US$ 140 e a um quatro de luxo pode ultrapassar US$ 800.
Apesar do luxo e conforto, Ibrahim conta que demorou a se acostumar à nova rotina no hotel. Como a comida no cárcere era sempre igual e em pequenas porções, médicos alertaram os ex-presos a não comer muito o bufê. Alguns itens da luxuosa cozinha, como o fondue, também tiveram que ser cortados temporariamente.
"Nossos corpos não estão acostumados com tanta comida. Comíamos tão pouco que nossos estômagos se acostumaram", disse Ibrahim.
Mustafa Maslamani, 47 anos, que também estava preso em Israel e agora mora no hotel em casa, disse que não tem conseguido dormir na cama. Para burlar a insônia, só colocando lençóis no chão, contou ele. "Na prisão, dividíamos uma cela com oito pessoas", disse Maslamani, condenado por matar dos colonos judeus a tiros em 2001. "Aqui, eu não consigo dormir na cama. Não quero esquecer de onde vim."
O luxo não compensa para alguns. Maslamani, por exemplo, diz que sua pena de prisão só vai acabar quando puder voltar para Tubas, sua cidade natal, na Cisjordânia, onde vivem seus seis filhos.
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