O radicalismo sobre questões raciais nas campanhas presidenciais americanas nos últimos dias deve gerar dificuldades extras para o novo chefe de Estado, segundo especialistas. O discurso da intolerância e do ódio, além de potencialmente aumentar a já recorde rejeição dos dois candidatos, ocorre a menos de dois meses de uma onda de violência racial que deixou negros e policiais brancos mortos.
O impacto eleitoral desta estratégia, intensificada nesta sexta-feira, ainda não é muito claro. Para Hillary Clinton, o objetivo é manter o eleitorado negro ao lado da democrata, uma vez que Donald Trump mudou sua campanha para atrair as minorias – os afro-americanos e latinos. Pesquisas apontam que de 80% a 90% dos negros do país apoiam a democrata – seu grupo de eleitores mais fiel.
Serve, também, de cortina de fumaça para os próprios problemas, uma vez que a divulgação, nesta semana, de uma nova leva de e-mails de Hillary quando era secretária de Estado indica a possibilidade de conflito de interesses envolvendo a Fundação Clinton.
No começo da semana, a campanha do republicano deu uma guinada ao centro, tentando alcançar os eleitores das minorias demográficas americanas. Aos latinos, disse que pode rever seu plano de deportar até 11 milhões de imigrantes sem documentos e criar formas de legalizar o trabalho de quem “não tem problemas com a lei”. Aos negros, pediu o voto, afirmando que o grupo “não tem nada a perder”, o que foi considerado preconceituoso pela campanha democrata, que viu o republicano “avaliar que todos os afrodescendentes são pobres”.
Em uma forte reação, a campanha de Hillary ligou o nome de Trump ao racismo, à intolerância e à divisão racial. Os democratas lembraram que Stephen Bannon, novo diretor da campanha do rival, trabalhou para o site Breitbart, voltado ao “al-right”, movimento de “direita alternativa” que abarca extremistas. Nesta sexta-feira, o vice da chapa, Tim Kaine, afirmou que Trump abraça os valores da Ku Klux Klan (grupo que defende a supremacia branca). Anúncios de tevê lembraram uma fala tida como preconceituosa de Trump, onde ele diz que negros deviam votar nele por “viverem na pobreza, suas escolas não são boas, vocês não têm empregos”.
Já Trump divulgou um vídeo de 1996 no qual Hillary aparece chamando jovens negros de “superpredadores que precisam ser ‘controlados’”, em um sinal de que estaria sendo preconceituosa. O republicano ainda afirmou que, ao acusá-lo de ser racista, na verdade ela está acusando de racismo a todos os seus eleitores.
“Os problemas de divisão da sociedade americana sempre existiram, mas estão mais expostos agora. Com esta campanha tão radical, o novo presidente, seja quem for, terá trabalho extra para unir o país depois de uma campanha que explorou como nunca a questão do ódio e do medo”, afirmou Beatriz Cuartas, professora e diretora da Universidade George Washington.
Ela afirma que Hillary, com isso, não abaixa o nível da campanha, “que desde o início esteve muito próximo do solo”, mas que visa a reforçar a imagem negativa de Trump. Segundo ela, os eleitores indecisos e os moderados acabarão votando em “quem odeiam menos”, e toda imagem negativa pode contar.
Micah Cohen, editor de politica do site especializado FiveThirtyEight, disse ao Globo que a estratégia de Trump nunca visou, de fato, conquistar o voto dos afroamericanos.
“Ele sabe que será muito difícil conquistar este eleitor. Essa nova mensagem, sinalizando para as minorias, visa o eleitor branco moderado, que até aceita as ideias econômicas de Trump, mas não quer votar em alguém visto como um racista.”
O embate ocorre meses antes do fim dos oito anos do primeiro presidente negro do país e menos de 60 dias após uma série de protestos pela morte de jovens negros por policiais brancos, sem motivo aparente, e por manifestações que se transformaram em emboscadas de negros contra oficiais brancos.
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