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Cúpula das Américas

Declaração final expõe racha do continente em relação à Alca

A Declaração de Mar del Plata, documento final do encontro de cúpula de presidentes americanos realizada na Argentina, foi concluída depois de sete horas de reunião extraordinária contém três pontos que mostram as divergências entre o grupo de 34 países sobre as negociações da Área de Livre Comércio da região. Foi a primeira vez que uma reunião do grupo não terminou em consenso.

Um dos parágrafos faz referência ao grupo de 29 países que está disposto a seguir negociando a Alca, proposta defendida pelos gigantes Estados Unidos e Canadá, além de Méxicoe Chile. O outro ponto incluído no documento reflete a posição dos quatro países do Mercosul e a Venezuela, que acreditam que não há como seguir negociando o acordo como ele está proposto hoje.

O terceiro parágrafo incluído no apagar das luzes da Cúpula é a proposta do presidente colombiano, Alvaro Uribe, que sugere a convocação de um novo encontro para avaliar a situação geral do possível acordo e fazer recomendações aos governos. Esta reunião aconteceria depois do próximo encontro da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), marcada para dezembro em Hong Kong, mas não há data nem local acertados.

A Declaração também aprovou cinco comunicados especiais sobre Haiti, Nicarágua, Colômbia e Bolívia, além de citar a própria rodada de negociações da OMC.

Negociações - O último dia de negociações na cidade costeira de Mar del Plata começou com um discurso enérgico do mexicano Vicente Fox, que depois de fazer uma extensa descrição dos benefícios que seu país obteve por negociar tratados, chamou os mais reticentes a se sentar para dialogar.

- Ajamos com seriedade, tomemos a direção correta. Espero que consigamos nesta ocasião voltar à mesa da negociações e continuar configurando um acordo único, um acordo diferente, vantajoso - disse o presidente mexicano.

A Alca, impulsionada pelos Estados Unidos e outros 28 países da região, nasceu há mais de uma década, mas faz pelo menos dois anos que as negociações estão paralisadas.

O países do Mercosul - Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil - acreditam que enquanto os Estados Unidos subsidiarem sua produção agrícola não será possível avançar na integração, porque ao mesmo tempo em que impede o acesso pleno aos mercados, o acordo colocaria em risco milhares de postos de trabalho.

É também o que acreditam os milhares de manifestantes que protestaram contra a presença de Bush e contra a Alca, em um ato em que o orador principal foi o líder venezuelano Hugo Chávez, o maior inimigo político de Bush na região.

Fox, tentando destravar a discussão, disse que o propósito da criação do Encontro de Cúpula das Américas foi "a abertura comercial e o uso do comércio como um grande gerador de empregos":

- Isto foi ratificado em Quebec (cúpula de 2001) e aqui estão as assinaturas, incluindo a de Hugo Chávez.

Mercosul - O presidente brasileiro Luiz Ignácio Lula da Silva defendeu a posição do bloco comercial do Cone Sul:

- Estamos preocupados em discutir uma política de livre comércio no mundo inteiro, na medida em que os países desenvolvidos renunciem a seus subsídios agrícolas, que têm castigado os países pobres - disse Lula.

- Não é oportuno discutir a Alca em momentos em que se aproxima uma grande reunião da Organização Mundial do Comércio. A partir daí teremos a oportunidade de quebrar os subsídios - acrescentou.

Em dezembro, em Hong Kong, a organização vai se reunir com o objetivo de avançar em um acordo para concretizar em 2006 a rodada de Doha de liberalização do comércio, que tem na agricultura o seu maior obstáculo.

A cada ano, as potências européias e os Estados Unidos destinam bilhões de dólares para proteger sua produção agrícola, o que, na visão dos países em desenvolvimento, obstrui o livre comércio que pregam as nações mais ricas.

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