O mar de trajes formais e escuros predominantes nas negociações climáticas globais em Paris é algumas vezes quebrado pelas penas laranjas, amarelas e vermelhas presentes no cocar do ativista brasileiro José de Lima Kaxinawa. Ele pertence à tribo Kaxinawa, também conhecida como Huni Kuin, que vive na floresta amazônica entre o Brasil e o Peru e cujo modo de vida está sob ameaça com o desmatamento.
Ele é uma das centenas de brasileiros além da comitiva oficial nas negociações sobre o clima, tornando o Brasil de longe o país com mais representantes. Integrantes desse tipo de comitiva são obrigados a usar adesivo roxo, mostrando que podem ser convidados a deixar as reuniões caso não haja mais espaço.
Isso ocorre porque, mais uma vez, o Brasil aderiu à sua política de portas abertas, na qual qualquer pessoa pode se juntar à delegação do governo sob a condição de arcar com as próprias despesas. Dessa forma, o país levou a Paris 800 representantes -- de longe o maior número.
Outros países que contam com grande número de representantes são a China e os Estados Unidos, embora números exatos ainda não tenham sido divulgados. No total, cerca de 20.000 representantes dos governos estão em Paris para as negociações, juntamente com outros 20.000 participantes que incluem ativistas, observadores e jornalistas.
“Somos muito inclusivos”, disse o ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Alberto Figueiredo Machado à Reuters, ao falar sobre a política do Brasil para a cúpula do clima.
Seja em trajes tradicionais ou informais, os militantes brasileiros são presença constante no local onde ocorre a conferência, ao norte de Paris. Eles fazem lobby nos corredores e salas para as causas que defendem, geralmente a proteção da floresta tropical.
Francinara Soares Martins, vestindo brincos de ossos e penas coloridas e brilhantes, disse que está lá para atrair a atenção para povos indígenas no Norte do país, que poderiam segundo ela ajudar a proteger a Amazônia do desflorestamento por agricultores.
“O governo não está fazendo o suficiente para deter o desmatamento”, disse ela.
Mas nem todos se espantam com o tamanho da delegação brasileira. Há seis anos, na cúpula de Copenhague, o Brasil levou 900 membros, sendo que alguns tiveram de passar horas no frio, devido ao tamanho da fila, para obter a credencial.
Já em Paris quase não houve filas, mas alguns participantes --incluindo cientistas e jornalistas-- ficaram frustrados pelo número limitado de credenciais devido à falta de espaço.
De acordo com a secretária-executiva da convenção do clima da ONU, Christiana Figueres, o tamanho das delegações nacionais é ilimitado. “Cada país traz a equipe que desejar”, disse.
E talvez seja bom ter a delegação brasileira como a mais visível, uma vez que o país até agora não tem sido uma das principais vozes nas negociações. Outros grandes países como a China e Estados Unidos têm liderado as reuniões.
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