Forças de segurança do Egito acabaram nesta quarta-feira com um acampamento de milhares de manifestantes que defendem o presidente deposto Mohamed Mursi, matando muitas pessoas, no dia mais violento das últimas décadas no maior país árabe do mundo.
O Ministério da Saúde disse que 149 pessoas foram mortas, tanto no Cairo como em confrontos que se espalharam por outras cidades do país. A Irmandade Muçulmana, grupo de Mursi, disse que o total de mortos era muito maior, no que descreveu como um "massacre".
Enquanto dezenas de corpos eram carregados para um necrotério perto da mesquita de Rabaa al-Adawiya, o governo apoiado pelas Forças Armadas declarou estado de emergência por um mês, devolvendo ao militares os poderes ilimitados que mantiveram por décadas antes de uma revolta pró-democracia em 2011.
O vice-presidente interino do Egito, Mohamed ElBaradei, renunciou ao cargo em protesto contra a repressão. Em carta-renúncia enviada ao presidente interino, Adly Mansour, ElBaradei disse que "os beneficiários do que aconteceu hoje são aqueles que pedem por violência, terrorismo e os grupos mais extremistas".
As forças de segurança agiram durante a madrugada para acabar com um acampamento de seis semanas no Cairo de apoiadores de Mursi. As tropas abriram fogo contra os manifestantes, em confrontos que causaram o caos em algumas áreas da capital e polarizaram ainda mais a população de 84 milhões de pessoas do Egito, entre aqueles que apoiam Mursi e os milhões que se opuseram ao seu breve governo.
A tropa de choque da polícia, usando máscaras de gás, aproximou-se agachada atrás de veículos blindados pelas ruas ao redor da mesquita Rabaa al-Adawiya, no nordeste do Cairo, onde milhares de apoiadores de Mursi mantinham uma vigília.
A violência se espalhou para além da capital, chegando às cidades no delta do Nilo de Minya e Assiut e à cidade na costa setentrional de Alexandria.
"Eles chegaram às 7h da manhã. Helicópteros por cima e tratores embaixo. Abriram caminho através de nossas paredes. Policiais e soldados atiraram gás lacrimogêneo contra crianças", disse o professor Saleh Abdulaziz, de 39 anos, enquanto estancava um sangramento na cabeça.
"Eles continuaram a disparar contra os manifestantes, mesmo quando pediam para parar."
O Ocidente, em especial os Estados Unidos, que concedem aos militares egípcios 1,3 bilhão de dólares por ano, tem se alarmado com a recente onda de violência. Nesta quarta-feira, a União Europeia exortou as forças de segurança a mostrarem a "máxima moderação" no país que tem um tratado de paz com Israel e controla a vital hidrovia do Canal de Suez.
Militares apertam controle
A ação para acabar com os acampamentos parece frustrar as esperanças restantes de trazer a Irmandade Muçulmana de volta ao palco político central e destacou a impressão compartilhada por muitos egípcios de que os militares apertaram o controle.
A operação também sugere que o Exército perdeu a paciência com os persistentes protestos que imobilizavam partes da capital e retardavam o processo político.
Tudo começou logo após o amanhecer, com helicópteros sobrevoando os acampamentos. Tiros foram disparados enquanto os manifestantes, entre eles mulheres e crianças, fugiam de Rabaa, e a fumaça subiu sobre o local. Veículos blindados avançaram ao lado de tratores que começaram a derrubar as tendas.
O governo, que prevê novas eleições em cerca de seis meses para devolver o regime democrático ao Egito, instou os manifestantes a não resistir às autoridades, acrescentando que os líderes da Irmandade Muçulmana devem parar de incitar a violência.