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Primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), a presidente Dilma Rousseff lembrou nesta quarta-feira o fato e se disse orgulhosa. "É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nessa tribuna, que tem compromisso de ser a mais representativa do mundo." E destacou: "Vivo este momento histórico com orgulho de mulher. Tenho certeza que este será o século da mulher."
Segundo Dilma, o mundo vive um momento delicado, mas de grande oportunidade história. Ela afirmou que, se a crise econômica global não for debelada, pode se transformar em uma ruptura "sem precedentes", capaz de provocar sérios desequilíbrios entre as pessoas e as nações. "Ou nos unimos todos e saímos vencedores, ou sairemos todos derrotados." Menos importante é saber quem foram os causadores dessa situação, de acordo com ela.
"Importa sim, encontrarmos soluções coletivas, rápidas e verdadeiras. Essa crise é séria demais para que seja administrada por uns poucos países. Seus governos e bancos centrais continuam na responsabilidade da condução do processo, mas sofrem as consequências da crise, todos os países. Portanto, têm direito de participar das soluções."
"Reconhecimento da Palestina ampliaria paz" A presidente Dilma saudou o Sudão do Sul, mais novo membro a ingressar na ONU e lamentou não poder saudar da tribuna o ingresso da Palestina. "O Brasil, assim como a maioria dos países dessa Assembleia já reconhece o Estado palestino como tal. É chegado o momento de termos a Palestina representada aqui a pleno título."
Na sua avaliação, este reconhecimento é um direito legítimo do povo palestino. "O reconhecimento da Palestina ampliaria a paz duradoura no Oriente Médio", frisou, destacando que apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender os anseios por paz, segurança e estabilidade política em seu entorno regional. E citou que no Brasil, descendentes de árabes e judeus são compatriotas e convivem em harmonia.
A presidente defendeu também o acordo global para combater a mudança climática. "Para tanto, é preciso que os países assumam responsabilidades que lhes cabe. E acreditamos que os países desenvolvidos cumprirão as metas que o Protocolo de Kyoto estabeleceu até 2012."
Para presidente, não é por falta de recursos financeiros que não se encontrou a solução para a atual crise econômica global. "É por falta de recursos políticos e clareza de ideias", destacou. Na sua avaliação, uma parte do mundo não encontrou equilíbrio entre ajuste fiscal apropriado para demanda e crescimento. "E ficam presos na armadilha que não separa interesse partidário dos interesses legítimos da sociedade".
Em seu discurso, a presidente do Brasil disse que o desafio colocado nessa crise é substituir teorias defasadas do mundo velho por novas formulações de um mundo novo. "A face mais amarga da crise é que o desemprego se amplia. É vital combater essa praga para ela não se alastrar. Nós, mulheres, sabemos, mais do que ninguém, que desemprego não é estatística, pois nos tira esperança e deixa a violência e a dor."
Dilma reiterou que é significativo que seja a presidente de um país emergente que fale hoje dessa tragédia que assola os países mais desenvolvidos. "O Brasil tem sido menos afetado pela crise mundial, mas sabemos que nossa capacidade de resistência não é ilimitada. Queremos poder ajudar os países onde crise é aguda. A cooperação é uma oportunidade histórica."
Segundo Dilma, os países emergentes podem colaborar com soluções para a crise econômica internacional e que as instituições internacionais devem trabalhar em conjunto. "A ONU e essas organizações precisam emitir sinais claros de coesão política e coordenação macroeconômica", disse a presidente.
"Os países superavitários devem estimular seus mercados internos", recomendou. Ao citar os países com problemas de dívida soberana, Dilma defendeu ações contra a guerra cambial. "É preciso impor controles à guerra cambial", disse.
Dilma também pediu mais participação dos países emergentes nas instituições financeiras internacionais. "A reforma das instituições financeiras deve prosseguir com a participação dos países emergentes, principais responsáveis pelo crescimento mundial", emendou.
Segundo a presidente, o Brasil não está imune à crise, mas está tomando providências para evitá-la. "Estamos tomando precauções adicionais para reforçar nossa capacidade de resistência à crise fortalecendo nosso mercado interno com políticas de distribuição de renda", relatou.
No discurso, Dilma também frisou que o Brasil descobriu que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza. "É a política de combate às desigualdades", emendou. Segundo ela, o país avançou em suas políticas econômica e social, sem comprometer sua liberdade democrática. "Os objetivos do milênio (estabelecidos para 2015) já foram cumpridos pelo Brasil".
A presidente citou que quase 40 milhões de brasileiros saíram da pobreza e estão inseridos na chamada nova classe média. "E tenho certeza que até o final do meu governo, vamos erradicar a pobreza no país", destacou. Dilma disse que a mulher tem papel central em seu governo, mas reconheceu que o país, como um todo, ainda precisa fazer muito mais pelo reconhecimento da mulher.
"Além do meu querido Brasil, me sinto representando todas as mulheres do mundo: as anônimas que passam fome, aquelas que padecem de doenças, as que sofrem violência e são discriminadas, aquelas cujo trabalho no lar cria gerações futuras. Junto minha voz à voz das mulheres que ousaram lutar e participar da vida profissional e política e conquistaram espaço de poder."
A presidente citou que foi torturada no cárcere e disse que, por este motivo, sabe como são importantes os valores da democracia, justiça, liberdade e dos direitos humanos.
A presidente Dilma Rousseff defendeu nesta quarta a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e o ingresso do Brasil como seu membro permanente. "O Brasil está pronto para assumir suas responsabilidades como membro permanente", ressaltou a presidente, em seu discurso de abertura da 66.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Dilma citou as cooperações do Brasil na solução de conflitos internacionais e a atuação das forças brasileiras no Haiti. "Com respeito à soberania haitiana, o Brasil tem orgulho da cooperação para a consolidação da democracia naquele país."
Para a presidente, o terrorismo só poderá ser combatido com eficácia se houver mudanças na representação dos países nas Nações Unidas. "A atuação do Conselho de Segurança é essencial e ela será tão acertada quanto mais legítimas forem suas decisões" afirmou a presidente, ao defender a inclusão de países em desenvolvimento no Conselho. "A cada ano que passa, mais urgente se faz uma solução para a falta de representatividade no Conselho de Segurança, o que corrói sua eficácia. Não é possível protelar mais", defendeu.
Dilma também citou as revoluções nos países árabes e disse que os brasileiros "se solidarizam com a busca de um ideal que não pertence a nenhuma cultura". Para a presidente, os países precisam se unir para colaborar com a construção da democracia no mundo árabe. "É preciso que as nações busquem uma forma de cooperar", disse.