A embaixada dos Estados Unidos na Venezuela defendeu hoje (1) os três diplomatas expulsos do país pelo presidente Nicolás Maduro, rejeitando as acusações de envolvimento deles com espionagem e de que Washington esteja tentando desestabilizar o governo venezuelano.
A mais alta diplomata americana em Caracas, Kelly Keiderling, que deve deixar a Venezuela amanhã, concedeu uma inusual coletiva de imprensa e confirmou ter se reunido com representantes sindicais e políticos da oposição, mas afirmou que isso faz parte do trabalho diplomático.Na mais recente disputa entre EUA e Venezuela, Maduro ordenou ontem que três diplomatas norte-americanos saíssem do país, incluindo Keiderling, que estava temporariamente no comando da representação americana em Caracas.
Maduro alegou que os três haviam se reunido com líderes opositores "de direita" e instigado atos de sabotagem contra a rede de eletricidade e a economia do país.
Na TV, o mandatário exibiu vídeo que mostra a chegada dos diplomatas americanos à sede de um município governado pela oposição no Estado Bolívar. Mostra também os representantes chegando à sede da ONG Súmate, ligada à oposição.
Segundo o governo, as reuniões serviram para coletar informações e "abastecer financeiramente" a oposição. O objetivo, ainda segundo o vídeo, seria preparar a estratégia para as eleições municipais de 8 de dezembro. Mas Maduro não apresentou provas a respeito.
Nas imagens, o governo admite que em Bolívar, que faz fronteira com o Brasil e a Guiana, existem "problemáticas econômicas, políticas, trabalhistas e energéticas." Sede das indústrias básicas nacionalizadas, a região vive crise com a decadência das empresas, denúncias de corrupção e o racha no chavismo local.
"O diplomata não deve se limitar a um intercâmbio com o governo, por mais importante que seja, mas ir pouco além, entende de que se trata o país", disse Keiderling a jornalistas em Caracas.
"Se a acusação é que nos reunimos com venezuelanos [...], nos reunimos com representantes do mundo sindical do Estado Bolívar [...]. Lá pedimos uma reunião com o governador [chavista] Francisco Rangel Gómez, mas ele não esteve. Estava fazendo lobby para que Ciudad Bolívar seja sede dos Jogos Panamericanos", continuou ela, cujas declarações foram disponibilizadas no site venezuelano Notícias 24.
Resposta recíproca
As expulsões jogam por terra os cautelosos esforços feitos este ano para restabelecer relações diplomáticas plenas, as quais se desgastaram durante os 14 anos do falecido presidente Hugo Chávez.
Um comunicado dos EUA diz que o governo está avaliando a sua resposta e pode adotar ação recíproca, em conformidade com a Convenção de Viena sobre relações diplomáticas.
"Rejeitamos completamente as alegações do governo venezuelano de envolvimento do governo dos EUA em qualquer tipo de conspiração para desestabilizar o governo venezuelano", acrescentou. "Nós rejeitamos também as alegações específicas contra os três membros da nossa embaixada."