Um ativista opositor cubano, que se mudou para os Estados Unidos e teve negada no ano passado a permissão para voltar para sua terra natal, se afogou ao tentar entrar no país comunista a bordo de um barco. Adrian Leiva saiu de Havana em direção a Miami em 2005 e obteve autorização para retornar temporariamente a Cuba em 2008, mas foi expulso depois que seu visto de três meses expirou.
Ele pediu permissão para retornar no ano passado e morreu enquanto tentava chegar à costa cubana, disse o ativista Miguel Saludes nesta quarta-feira. A morte de Leiva foi noticiada na terça-feira pelo jornal Miami Herald.
Saludes disse por telefone, de Miami, que três homens que fizeram a viagem a bordo do barco com Leiva chegaram ao território cubano em 23 de março e foram detidos por guardas de fronteira. A família foi informada que Leiva morreu enquanto nadava para a costa e as autoridades recuperaram seu corpo.
A irmã de Leiva identificou os restos mortais do dissidente no necrotério de Havana nesta semana, disse Saludes.
Segundo Saludes, Leiva deixou Cuba em 2005 como refugiado político juntamente com sua esposa, também dissidente. Mas depois do fim do casamento, um ano depois, ele passou a querer voltar para ficar com sua família, particularmente com sua mãe, e continuar seu trabalho como ativista. "Ele se sentia sozinho", disse Saludes. "Frustrado. Ele não estava fazendo o que queria".
Autoridades do governo cubano não comentaram o caso nesta quarta-feira.
Tentativas de cubanos de voltarem secretamente para casa depois de viverem nos Estados Unidos são raras. Porém, muitos cubanos tentam fugir da ilha a cada ano, alguns com a ajuda de gangues de contrabandistas com lanchas para levá-los ao México ou arriscando suas vidas em embarcações menos sofisticadas pelo perigoso Estreito da Flórida.
Cubanos que chegam ao território norte-americano passam por avaliações médicas e físicas e recebem permissão para ficar em quase todos os casos, mas os que são capturados no mar são repatriados. Cuba afirma que a política dos Estados Unidos encoraja os cubanos a tentar chegar em território norte-americano.
Hugo Landa, diretor do CubaNet, uma agência de notícias do Sul da Flórida que publica artigos de jornalistas independentes cubanos e outros ativistas, disse que Leiva lutava para que cada cubano tivesse o direito de viajar livremente e sair e voltar para Cuba. "Ele é um mártir da causa", disse Landa nesta quarta-feira. Apesar das circunstâncias difíceis, Landa disse que Leiva era "obcecado para voltar a viver em Cuba".
"A maioria das pessoas, quando deixa Cuba, querem tão desesperadamente sair do pesadelo que não é comum ouvir sobre alguém que queira voltar", disse Landa.
Após ser expulso em 2008, Leiva tentou voltar legalmente a Havana no ano passado, mas voltou do aeroporto de Miami depois que o governo cubano ter afirmado que ele não tinha permissão para entrar no país.
Em Havana, Leiva fora um jornalista independente, trabalhando com grupos de mídia sediados em Miami, incluindo o CubaNet, para escrever contra o forte controle cubano sobre os meios de comunicação.
Ele também esteve envolvido com um movimento dissidente em 2002 liderado por
Oswaldo Paya, que lutava pela realização de um referendo que permitiria os cubanos votarem contra ou a favor do governo comunista e decidir sobre liberdade de expressão e propriedade privada. O governo de Cuba respondeu declarando a medida inconstitucional e aprovando uma emenda tornando o socialismo "irrevogável".
Saludes falou pela última vez com Leiva em 22 de março. Ele disse ao amigo que havia conseguido o transporte para Cuba num barco pelo custo da gasolina. Saludes disse que seu amigo tinha mais de 50 anos e estava gordo, mas que conseguia nadar. Segundo ele, a morte de Leiva precisa ser devidamente investigada.
A pressão internacional sobre direitos humanos em Cuba aumentou após a morte do dissidente Orlando Zapata Tamayo. Em fevereiro, ele tornou-se o primeiro prisioneiro integrante da oposição em quase quatro décadas a morrer por recusar comida.
Outro dissidente e jornalista independente, Guillermo Fariñas, começou a recusar comida e água logo após a morte de Zapata Tamayo e mantém o manifesto há mais de seis semanas, embora sua família o leve ao hospital periodicamente para receber soro e alimentos intravenosos.
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