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Os dois atentados reivindicados ontem pelo Movimento Taleban Paquistanês (TTP , na sigla em urdu), os primeiros depois da morte de Osama bin Laden, representam "um marco" para Sidney Leite, doutor em conflitos no Oriente Médio e na África e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

"[A partir de agora,] acredito que teremos ondas de atentados no Oriente Médio, na África subsaariana, em regiões que não são necessariamente redutos da Al-Qaeda, mas com células terroristas que serão inspiradas pela morte de Bin Laden", diz Leite.

A cobertura dada pela mídia e até o modo como o presidente dos EUA, Barack Obama, escolheu para anunciar o fim do terrorista sunita para a comunidade internacional – ao vivo, na televisão – acabou criando uma situação interessante para os terroristas.

Se, como diz o governo paquistanês, as explosões ocorridas ontem não forem em nome de Bin Laden – eles alegam ser retaliação a uma ofensiva do governo em regiões tribais do país –, a notícia também é reveladora. Mostra a ansiedade dos terroristas em aproveitar o circo midiático em torno do fim do líder da Al-Qaeda.

Para o cientista político Heni Ozi Cukier, que trabalhou no Conselho de Segurança da ONU, não se trata, necessariamente, de uma vingança. "A tensão do Taleban paquistanês com o governo local está fundamentada em problemas regionais. Se você é terrorista, está numa briga contra o governo e surge um tema de repercussão internacional [como Bin Laden], você vai capitalizar em cima dele também", diz Cukier.

Talvez seja uma noção absurda para alguém do Ocidente, mas as ações terroristas se tornaram corriqueiras em partes do mundo árabe. "Sem dúvida, esses grupos vão procurar ações que repercutam na mídia, para que ganhem projeção e consigam passar suas mensagens. Os atentados de ontem vão gerar um sinal vermelho não só para os países da região, mas também para a Europa e os EUA. Aquilo que era expectativa se materializou", diz Leite.

Um dia depois da execução de Bin Laden, circularam notícias sobre a necessidade de se reforçar a segurança e de se preparar para eventuais retaliações dos terroristas. Foi essa expectativa, nomeada pelos americanos, que ganhou forma com as explosões de ontem.

Cukier explica que os atentados suicidas no Paquistão, embora não estejam no patamar dos que destruíram o World Trade Center – algo que a Al-Qaeda jamais conseguiu repetir –, podem ter impacto simbólico. "Depois do 11 de Setembro, surgiu uma pressão forte sobre a Al-Qaeda. Ela mudou, perdeu por um lado na tática operacional e ganhou na capacidade ideológica. Ela ficou enfraquecida por um lado, mas, na esfera ideológica, começou a criar pequenas Al-Qaedas ao redor do mundo. Franquias ou subsidiárias, cada uma nasce com questões pontuais, como lutas locais. Ela é hoje muito mais difusa", diz.

Leite acredita que a vingança do Taleban pode justificar represálias militares. "O compromisso de Obama era com o smart power [poder inteligente], não com o hard power [poder opressivo] do Bush. Quando teve chance de mostrar o smart, prendendo Bin Laden, ele partiu para o hard e o matou. Era um prisioneiro valioso, com informações que seriam úteis para os serviços de inteligência. Começou ali uma nova estratégia, que deverá levar a um combate sem trégua, implacável, a esses grupos terroristas. O assassinato do Bin Laden é um caminho sem volta."

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