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Clima tenso

Economia e isolamento, o dilema para a estabilidade de Pyongyang

Imagem de satélite mostra as duas Coreias à noite: Norte fica no escuro | Departamento de Defesa dos EUA/divulgação
Imagem de satélite mostra as duas Coreias à noite: Norte fica no escuro (Foto: Departamento de Defesa dos EUA/divulgação)

Conhecida como a ditadura mais fechada do mundo, a Coreia do Norte não passa de um Estado pária para a maioria dos países. Política comum entres nações autoritárias, o isolamento serve ao interesse do governo de garantir a estabilidade do regime. Dificilmente um estrangeiro é permitido entrar no país e a população vive alienada ao mundo exterior. A pobreza é extrema e após a queda da União Soviética, a economia degringolou de vez nos anos 90. Estima-se que a fome tenha matado entre 2,5 a 3 milhões de pessoas.

Fosse apenas um país à beira do colapso econômico, a Coreia do Norte não provocaria maior interesse da comunidade internacional do que o Chade ou o Turcomenistão. Mas o líder Kim Jong-il tem na manga um precioso trunfo para manter seu país longe da interferência externa, pelo qual também paga o preço de tanta atenção: o poderoso arsenal militar, com mísseis capazes de atingir facilmente a Coreia do Sul ou o Japão, e um exército composto por mais de um milhão de homens. Além disso, também tem um programa nuclear em desenvolvimento – embora não se saiba se o país possui ou não capacidade para realizar um ataque com bomba atômica.

O dilema do líder Kim Jong-il é conseguir manter seu país numa bolha sem que seus soldados e a população morram de fome. A economia centralizada e isolada está longe de ser autosuficiente. Pyongyang precisa de combustível e alimento do exterior para manter o país funcionando. A situação é tal que o país não consegue se quer prover energia elétrica durante à noite (veja na foto a imagem de satélite mostrando as duas Coreias à noite).

Mais do que a ameaça de Jong-il lançar um ataque contra o vizinho do sul, portanto, – como ameaçou ontem, ao anunciar o fim do armísticio estabelecido em 1953 –, a grande preocupação de analistas é que o líder comunista sinta-se tentado a usar armas de destruição de massa como moeda – e que elas caiam nas mãos de grupos ou países realmente interessados em usá-las.

O argumento usado pelo governo norte-coreano para romper o armísticio foi justamente a entrada, na última segunda-feira, da Coreia do Sul para a Iniciativa de Segurança contra a Proliferação (PSI), programa liderado pelos EUA para tentar aniquilar a proliferação e o tráfico de armas de destruição em massa. A PSI autoriza, por exemplo, a inspeção de navios e aviões suspeitos de transportar esse tipo de material.

O histórico norte-coreano de fato não é bom. Sabe-se que em 2001 o país vendeu duas toneladas de urânio processado para a Líbia. Mais de uma vez navios norte-coreanos também já foram pegos transportando armas e drogas ilegais.

Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, no entanto, afirmam que não é apenas um eventual aumento de fiscalização contra o comércio ilegal a explicação para as últimas atitudes de Jong-il. "Pode-se especular que é algum tipo de disputa pelo poder em Pyongyang", afirma Robert Hathaway, diretor do centro asiático do Woodrow Wilson Center, em Washington. Há tempos especula-se sobre o estado de saúde do líder comunista, de 67 anos. Scott Snyder, especialista em Coreia do "think tank" Council on Foreing Relations, em Nova Iorque, concorda. "As atitudes recentes mostram um medo e uma vulnerabilidade da possibilidade de que o mundo exterior possa intervir", afirma.

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