9 meses de conversas ela foi visitá-lo no Egito. Se casaram e menos de dois anos depois decidiram vir para Curitiba, onde estão até hoje.
Já Samy, que era advogado no Egito, decidiu correr o mundo e há 35 anos deixou o país das esfinges e pirâmides para residir na Itália. Viajou por outras terras e então decidiu fixar residência no Brasil, há 20 anos. Veio sozinho, deixando toda a família em sua terra natal. Naturalizado brasileiro há pouco tempo, Samy se considera ?um egípcio com documento brasileiro? e afirma que só aceitou participar desta reportagem porque agora sente-se mais seguro em relação à própria situação. ?Antes eu teria medo de me pronunciar, temendo algum tipo de repressão egípcia. Afinal, é um regime de governo capaz de qualquer coisa?, desabafa.
Ao contrário de Yasser ? que nesses quase oito anos no Brasil jamais retornou ao Egito ? Samy costuma visitar os parentes egípcios. Quando está no Egito, Samy diz não acreditar no que se transformou o país. Ele lembra dos tempos antes de Mubarak, quando o Egito ainda vivia sob uma situação econômica menos desfavorável. ?Tudo mudou muito após Mubarak. Tanto que acredito que ele seja o pior governante da história egípcia. Acho que nem durante a época em que o país viveu sob o domínio inglês o Egito viveu uma situação similar?, diz.
Para Yasser, que cresceu sob a influência do governo de Hosni Mubarak ? que ascendeu ao poder em 1981, após o assassinato do então presidente Anwar Al Sadat ?, as lembranças não são das melhores. Yasser recorda que na época do ex-presidente Al Sadat o país vivia uma situação econômica bem mais confortável. ?Mubarak recebeu o país numa situação de crescimento e desenvolvimento, mas não conseguiu mantê-lo no mesmo patamar. Através de acordos políticos, o governo passou a privilegiar empresários ligados ao partido de Mubarak [o Partido Nacional Democrático (PND)], criando novos monopólios e inviabilizando o crescimento de empresas e empresários não alinhados ao PND?, explica Yasser.
Em relação aos dias atuais, Yasser destaca a situação de extrema pobreza em que vive grande parte da população egípcia. ?40% da população vive abaixo da linha de pobreza, enquanto mais de 50% dos egípcios vivem na linha de pobreza, no limite?, observa.
Parentes
Tanto Yasser quanto Samy ainda têm parentes e amigos no Egito. Apesar da distância, sempre mantiveram contato com suas raízes ? uma tarefa que se tornou impossível nas últimas semanas. Há cerca de uma semana, o governo egípcio ordenou o corte das telecomunicações no país. A medida impede não apenas que os egípcios utilizem os serviços como também inviabiliza a comunicação internacional com o país.
Sem notícias, ambos aguardam, ansiosos, pelo restabelecimento das telecomunicações e por notícias dos familiares. ?Eu costumava falar com eles diariamente, mas de uma semana para cá não tem havido nenhum contato, devido a suspensão dos serviços de internet?, relata Yasser.
Apesar da falta de contato e das recentes notícias relacionadas à escalada da violência, ambos acreditam que as manifestações e a pressão da população sobre os governantes conduza o Egito a tão sonhada democracia. E que, com um pouco de sorte, o sonho democrático egípcio influencie e se torne real em outros países árabes do continente africano.
Para conhecer um pouco mais da saga destes dois egípcios no Brasil, confira o vídeo desta entrevista abaixo: