Jornalista egípcio morre após ser baleado em confronto
Um jornalista egípcio morreu nesta sexta-feira (4) pelos ferimentos de tiros disparados durante confrontos entre partidários e opositores do presidente Hosni Mubarak, informou um jornal estatal.
O jornal "Al-Ahram" informou que Ahmed Mohammed Mahmud, do jornal "Al-Taawun", publicado pela fundação governamental Al-Ahram, faleceu após permanecer em coma por quatro dias.
Segundo o jornal, ele foi atingido por franco-atiradores no último dia 28 quando tirava fotografias a partir de seu apartamento, perto da Praça Tahrir, o epicentro dos protestos contra o governo.
É a primeira morte reportada de um jornalistas em meio à crise no Egito.
Fonte: G1/ Globo.com
Centenas de milhares de egípcios desafiaram o governo nesta sexta-feira (4) em uma passeata pacífica no Cairo pela renúncia do presidente Hosni Mubarak, mas não há sinais de que a pressão do Exército e dos Estados Unidos o convença a deixar o cargo, que ocupa há 30 anos.
A praça Tahrir, epicentro dos protestos, estava repleta de pessoas que gritavam "saia, saia, saia!", que agitavam bandeiras egípcias e cantavam o hino nacional. A presença militar foi reforçada, mantendo à distância ativistas favoráveis a Mubarak.
Orações da sexta-feira, dia mais sagrado da semana islâmica, foram conduzidas na praça, no décimo primeiro dia dessa inédita onda de protestos contra Mubarak. Um clérigo elogiou a "revolução dos jovens" e declarou: "Queremos que o chefe do regime seja removido".
Em inglês, para atender à audiência televisiva global, um cartaz declarava: "Game over" (fim de jogo). Bonecos simbolizando Mubarak foram "enforcados" na praça.
A participação popular pareceu ficar abaixo dos mais de um milhão de manifestantes vistos na terça-feira. Depois do "Dia da Ira" celebrado na sexta-feira passada, os organizadores pretendiam desta vez promover o "Dia da Partida".
Diante da pressão dos últimos dias, Mubarak promete não concorrer a um novo mandato na eleição. Muitos egípcios consideram que a renúncia do presidente em setembro já seria suficiente, e anseiam pela volta à normalidade no país. Outros, no entanto, querem que o ditador saia já.
Nos bastidores, os Estados Unidos atuam para que Mubarak, seu aliado nos últimos 30 anos, entregue o poder, mas vários governos ocidentais temem que o mais populoso país árabe mergulhe no caos ou seja dominado por extremistas islâmicos.
Também o papel do Exército, muito respeitado pela população em comparação à polícia e ao restante do aparato de segurança, será vital para determinar o futuro de Mubarak, um ex-brigadeiro de 82 anos.
Líderes europeus se somaram à pressão norte-americana, e disseram que "o processo de transição deve começar agora", em vez de esperar até setembro.
Várias figuras proeminentes da academia e do empresariado disseram ter proposto um acordo pelo qual o recém-nomeado vice-presidente Omar Suleiman, ex-chefe de inteligência que goza da confiança de Washington, assumiria a autoridade real.
Isso permitiria que Mubarak concluísse seu quinto mandato como um cargo protocolar, encerrando sua vida pública com alguma dignidade.
Clima festivo
Depois de dois dias de violentos confrontos entre partidários e opositores do regime, o clima na sexta-feira era festivo na Praça Tahrir (Libertação), epicentro dos protestos iniciados em 25 de janeiro no Egito.
"Hoje é o último dia!", gritavam os manifestantes, enquanto alto-falantes tocavam música pop árabe, e helicópteros militares sobrevoavam o local.
Soldados mantinham a ordem sem intervir, e havia ambulâncias de prontidão. As manifestações do Cairo misturam ativistas laicos, de classe média, e pessoas de origem mais pobre, admiradores do grupo islâmico Irmandade Muçulmana.
Fora da praça, grupos pró-Mubarak continuaram intimidando jornalistas, e outros tentavam deter manifestantes. Mas não se repetiu o banho de sangue de quarta e quinta-feira, quando tiros foram disparados, e barras de ferro e madeira viraram armas.
A emissora Al Jazeera, do Qatar, disse na sexta-feira que sua sucursal no Cairo foi queimada e destruída por "gangues de delinquentes".
Antes, o veterano ministro da Defesa visitou a praça, inspecionando as tropas mobilizadas e prometendo proteger os manifestantes. A multidão reagiu gritando que "o povo e o Exército estão unidos".
Alguns manifestantes diziam compreender a necessidade de ser pacientes, mas prometeram manter a pressão sobre Mubarak. "Ele está fadado a sair agora, a única questão é quando", disse Khaled al-Khamisi. "Acho que o Exército não quer vê-lo humilhado."
Houve manifestações também em Suez, Ismailia e Port Said, todas a leste do Cairo, e também nas cidades de Mansoura, Damanhour e Qalyoubia, no delta do Nilo (norte), e em Assuã (sul).
Opções sobre a mesa
Sem pedir explicitamente a renúncia imediata do ditador, os EUA e seus aliados ocidentais têm estimulado o governo a promover uma transição e realizar eleições.
Uma fonte oficial norte-americana de alto escalão disse na quinta-feira, sob anonimato, que Washington avalia diversos cenários para o Egito, inclusive a renúncia imediata de Mubarak.
"Esse é um cenário. Há diversos cenários, mas é errado sugerir que tenhamos discutido só um com os egípcios."
Mubarak e os ministros do novo gabinete nomeado por ele na semana passada insistem que é melhor preservar a estabilidade, e tentam enviar uma mensagem para além dos manifestantes.
"Mais de 95 por cento dos egípcios votariam para que o presidente complete seu mandato ..., e não (que deixe o cargo) agora como a América e alguns Estados ocidentais desejam", disse o novo premiê, Ahmed Shafiq, à imprensa local.
A equipe de Shafiq tem se empenhado em passar uma imagem de moderação, pedindo desculpas pela violência cometida por grupos governistas nesta semana, e prometendo oferecer ordem e democracia.
O novo ministro das Finanças, Samir Radwan, disse à Reuters que os prejuízos após 11 dias de protestos serão "enormes". O turismo, voltado para as pirâmides e as praias, foi duramente afetado. Cerca de um milhão de visitantes deixaram o Egito desde o início dos distúrbios.
"Movimento islâmico"
Mubarak tradicionalmente se apresenta como um baluarte contra a ascensão de radicais islâmicos no mais populoso país árabe, hipótese que inquieta os Estados Unidos e Israel.
Alimentando tais temores, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, saudou o "movimento islâmico de libertação" que estaria tomando conta do Oriente Médio.
Em sentido contrário ao regime do Irã, a Irmandade Muçulmana, principal grupo de oposição no Egito, declarou que não pretende ter candidato para a eleição presidencial de setembro. Na véspera, o governo declarou que o grupo será legalizado e poderá participar de um diálogo nacional, algo impensável há poucos dias.
Antevendo a vitória, a fragmentada oposição, que vai do líder liberal Mohamed El Baradei à Irmandade Islâmica, rejeitou qualquer negociação enquanto Mubarak não renunciar.
O secretário-geral da Liga Árabe e ex-chanceler do país, Amr Moussa, opinou que Mubarak deveria concluir o mandato. "Mas há coisas extraordinárias acontecendo, há caos, e talvez ele tome outra decisão."
Moussa, citado como possível sucessor de Mubarak, disse à rádio francesa Europe 1 que cogita disputar a presidência. Ele participou da manifestação de sexta-feira na praça Tahrir.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 300 pessoas tenham morrido nos distúrbios do Egito, inspirados em parte pela rebelião popular que derrubou o governo da Tunísia no mês passado, e que se espalhou também para outros países do Oriente Médio, da Mauritânia ao Iêmen.
Na Argélia, grupos de oposição disseram na sexta-feira que provavelmente manterão os protestos planejados para a semana que vem, apesar de concessões políticas e das medidas para a criação de empregos anunciadas pelo governo.
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