Insatisfeitos com a forma como a crise está sendo gerida, os gregos impuseram neste domingo (6) nas urnas uma dura punição aos dois partidos tradicionais do país, que se alternavam no poder há quase quatro décadas e atualmente governavam em coalizão. As eleições deixaram a Grécia ainda mais dividida nas 300 cadeiras do Parlamento, com a maioria dos partidos contrária às medidas de austeridade impostas pela União Europeia - num panorama que agora ameaça não só a formação de um governo estável, como também a permanência do país na zona de moeda única.
Com mais de 99% dos votos apurados nesta segunda-feira, o partido conservador Nova Democracia liderava com 18,9% dos votos e 108 dos 300 assentos do Parlamento. O líder Antonis Samaras, cujo partido apoia os compromissos adotados no plano de resgate para uma maior austeridade, iniciará uma série de conversas para formar uma coalizão no decorrer do dia.
Mas o esforço pode se tornar impossível porque mesmo com o apoio de outro partido eleito que favorece o resgate creditício, o socialista Pasok, faltariam para a Nova Democracia duas cadeiras para formar um governo majoritário. O Syriza (Coalizão da Esquerda e do Progresso), que se opõe ao plano de resgate, ficou em segundo lugar com 52 assentos.
O maior revés foi para os socialistas. Eles ficaram no terceiro posto, com cerca de 13% de apoio, uma queda de 30 pontos percentuais em relação a 2009. Os conservadores se mantiveram em primeiro lugar, mas com 18,9% dos votos ficaram distantes dos 33% de três anos atrás. O Syriza emergia como a segunda força política do país, com 16% dos votos e selando de vez o fim do bipartidarismo na Grécia.
Alguns dos que devem conseguir cadeiras no Parlamento, como o Aurora Dourada (7%), de extrema-direita e orientação neonazista, e os comunistas do KKE (8%) defendem a revogação completa do acordo para o resgate da Grécia. Outros, como o Esquerda Democrática, partido em ascensão e que deve conseguir quase 7% dos votos, são a favor de uma renegociação.
"Votei mais à direita para frear a Europa e, sobretudo, a (chanceler alemã Angela) Merkel. Já chega de nos chamarem de ladrões", disse Nikos, antes eleitor socialista, mas que ontem, em Atenas, optou pelo direitista Gregos Independentes.
Já Panayotis Papayoryu, desempregado de 27 anos, disse ter escolhido votar no Syriza porque "é preciso ver o que acontece na Europa com a esquerda no poder".
A fragmentação do Parlamento obrigará Pasok e Nova Democracia a buscarem novo governo de coalizão, agora em aliança com uma terceira ou quarta força política. Apesar de durante a campanha ter insistido que não pretendia se aliar aos socialistas, o líder conservador, Antonis Samaras, já chamou ontem, antes mesmo do fim da apuração, à formação de um governo de coalizão nacional.
"Estamos preparados para formar um governo de salvação nacional - disse Samaras a jornalistas na sede de seu partido". "Somos a única garantia de estabilidade política. Entendo a ira do povo, mas o Nova Democracia não vai deixar o país sem governo."
O líder do Pasok, Evangelos Venizelos, também pediu o estabelecimento urgente de um governo de união nacional, mas deixou clara a necessidade de que os partidos tenham uma orientação pró-europeia.
"As eleições não estabeleceram um vencedor claro e é necessário um governo de união nacional com partidos de orientação europeísta. Tenho certeza que o povo protegerá o futuro do país", afirmou Venizelos.
As eleições de ontem inicialmente estavam marcadas para 2013, mas foram antecipadas com a queda, em outubro passado, do então primeiro-ministro Yorgos Papandreu. O socialista teve seu mandato precipitado ao propor um referendo popular sobre o resgate da Grécia, e deu lugar a um governo entre Pasok e Nova Democracia. Bruxelas defende este ano novamente uma coalizão entre socialistas e conservadores.
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