Seja quem assuma como primeiro-ministro de Israel após as eleições desta terça-feira (10), não haverá uma marcha rápida para a paz com os palestinos. Benjamin Netanyahu se opõe a concessões territoriais e quer expandir os assentamentos na Cisjordânia e a força militar no trato com os palestinos. Já Tzipi Livni se diz disposta a ceder a Cisjordânia, mas não parece que terá chance de fazer essa oferta.
Netanyahu tem melhores condições de liderar o país, porém qualquer deles enfrentará um Parlamento bastante fragmentado e uma coalizão que precisará de forte apoio para as decisões importantes - especialmente os compromissos amplos requeridos em um eventual acordo de paz.
Nesta quarta-feira, faltando apenas alguns milhares de votos para apurar, os resultados mostram que o Kadima conquistou 28 cadeiras no Parlamento. O Likud conquistou 27.
O linha-dura Likud, de Netanyahu, e o centrista Kadima, de Livni, aparentemente garantiram um quarto das cadeiras cada no Parlamento de Israel. Para assumir o poder, precisam de parlamentares suficientes para controlar a metade mais um dos 120 votos. Como cada partido tem sua própria agenda, muitas vezes conflitantes entre si, está pronta a receita para o impasse.
O primeiro-ministro Ehud Olmert, prestes a deixar o poder, estava em posição similar. Apesar de ter sobrevivido três anos no posto, Olmert rapidamente desistiu de seu plano de se retirar unilateralmente de grande parte da Cisjordânia, pois perderia apoio dos aliados.
Os partidários de Netanyahu aparecem com esperança de ter uma maioria clara de partidos linhas-duras e ortodoxos. Um importante parceiro seria o partido de ultradireita de Avigdor Lieberman, o Yisrael Beitenu, que ganhou cerca de 15 assentos ao promover uma política antiárabe. O Partido Trabalhista, do ministro da Defesa, Ehud Barak, deve ficar em quarto lugar, com 13 cadeiras.
Uma das opções seria inclusive a ministra de Relações Exteriores, Tzipi Livni, formar um governo com Lieberman. Em sua base natural de poder, Livni não conseguiria passar de 45 membros do Parlamento. Outra alternativa seria uma coalizão entre Netanyahu e Livni.
Uma maioria parlamentar para partidos que se opõem ao compromisso com os palestinos não é um acidente: após muitos anos de apoio à criação de um Estado palestino, muitos israelenses parecem mudar de ideia, segundo pesquisas recentes. A ofensiva de Israel em Gaza deu a muitos israelenses um sentimento de orgulho pela punição imposta ao grupo militante Hamas.
Cenário complexo
Netanyahu tem mais chances do que a chanceler Livni de formar uma nova coalizão de governo, avaliou a mídia local nesta quarta-feira.
"Ele perdeu, mas vai levar", dizia a manchete do tabloide Maariv, referindo-se ao fato de o Likud, de Netanyahu, ter ficado com uma cadeira a menos do que o Kadima, de Livni, no Parlamento do país.
Como nenhum partido chegou perto de 61 cadeiras, o que garantiria a maioria, a formação de uma coalizão torna-se necessária. E, em Israel, o partido que vence a eleição não é necessariamente incumbido de formar o governo. Se outra agremiação tiver mais chances de estabelecer uma coalizão majoritária, isso pode ser feito.
Pelas contas dos analistas, em tese, Netanyahu tem a possibilidade de agregar um total de 65 cadeiras: as 27 do Likud, 15 do ultranacionalista Yisrael Beitenu, 11 do ultraortodoxo Shas, cinco do Judaísmo da Torá Unida e sete de dois partidos de colonos de extrema direita.
Livni, por sua vez, poderia contar apenas com 44 cadeiras: as 28 do Kadima, 13 do Partido Trabalhista e três do esquerdista Meretz.
As 11 cadeiras restantes do Parlamento estão nas mãos de partidos árabes. Analistas políticos consideram improvável que eles venham a integrar formalmente alguma das coalizões.
"Apesar do resultado das urnas, não está garantido que Livni conseguirá formar uma coalizão com as 61 cadeiras necessárias para a formação de um governo", escreveu o Haaretz.
"As opções de Tzipi Livni são bastante limitadas", observou o site de notícias Ynet, um dos mais populares de Israel.
"Na noite de terça-feira ela já havia prometido abordar o Likud e os trabalhistas para atraí-los para sua coalizão. Depois ela também tentará atrair o Yisrael Beitenu e o Shas para seu governo ao mesmo tempo em que estará conversando com o Meretz, que por sua vez não aceitará fazer parte do mesmo governo que o Israel Beitenu", especulou o Ynet.
"Enquanto isso, Netanyahu também tem as mãos atadas, apesar de parecer que as opções dele são um pouco mais diversificadas: ele prometeu abordar o Shas e o Yisrael Beitenu antes de se engajar em negociações com os demais. Esses dois partidos dariam a ele mais 25 cadeiras, mas isso ainda não é suficiente", prosseguiu. As informações são da Associated Press e da Dow Jones.
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