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Em vez de ficarem quietos durante um minuto de silêncio nacional na semana passada, três alunos da escola secundária de Hamid Abdelaali, subúrbio fortemente muçulmano de Paris, organizaram um protesto informal, falando alto durante todos os 60 segundos. Não foram os únicos. Em uma escola na Normandia alguns estudantes muçulmanos gritaram "Alá é grande!", em árabe, no mesmo instante. Em uma escola de Paris, um outro grupo de jovens pediu educadamente para não respeitar o minuto, argumentando ao professor: "Você colhe o que planta".

Dentro da comunidade muçulmana de cerca de 5 milhões pessoas na França — a maior da Europa — muitos veem a tragédia de pontos de vista totalmente diferentes de seus compatriotas não-muçulmanos. Eles se sentem profundamente dilacerados pelo slogan, agora viral, "Eu sou Charlie", argumentando que não, definitivamente não são Charlie.

Abominam a violência que assolou o país na semana passada, mas também estão revoltados. Ao colocar a publicação em um pedestal, eles insistem, os franceses estão mais uma vez deixando de lado a comunidade muçulmana, alimentando um sentimento geral de discriminação que, argumentam, ajudou a criar as condições para a radicalização.

O desemprego e pobreza continuam a ser muito maior entre os muçulmanos do que entre a população francesa em geral. E são particularmente elevados nos subúrbios muçulmanos de Paris, como Gennevilliers, onde pelo menos um dos suspeitos, Chérif Kouachi, morava. Nas ruas, o jornal "Charlie Hebdo" permanece como um símbolo do que alguns, como Mohamed Binakdan, 32 anos, descrevem como "a humilhação cotidiana dos muçulmanos na França".

"Você vai a uma boate, e não te deixam entrar", disse Binakdan, um trabalhador de trânsito em Paris. "Você vai a uma festa, eles olham para a sua barba, e dizem: "Oh, quando você vai para a Síria para se juntar à jihad?" O Charlie Hebdo é uma parte disso também. Aqueles que são mais fortes estão zombando de nós. Temos taxas de desemprego elevadas, alto índice de pobreza. Religião é tudo que nos resta. E é sagrada para nós. E sim, nós sofremos quando vemos pessoas rindo sobre isso."

Alguns insistem que há um duplo padrão na liberdade de expressão. Eles citam a proibição indireta, de 2010, do uso da burca na França, que proibiu a "ocultação da face" em público, e que os críticos muçulmanos dizem ter sido claramente destinadas às mulheres islâmicas. Também apontam as críticas ao cartunista do próprio "Charlie Hebdo" Maurice Sinet, conhecido como Siné, em 2008, depois que ele se recusou a pedir desculpas por uma coluna que alguns taxaram como antissemita. A mesma ação não foi tomada, grupos muçulmanos destacam, após os seus protestos contra caricaturas de Maomé no semanário.

Funcionários muçulmanos franceses vêm denunciando uma onda sem precedentes de incidentes anti-islâmicos — pelo menos 54 desde quarta-feira, incluindo ataques incendiários contra mesquitas. No entanto, argumentam, as tropas francesas têm reforçando medidas de segurança desproporcionais, dando mais ênfase na proteção de sinagogas e escolas judaicas.

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