Obama, Michelle e Raúl Castro em jogo de beisebol| Foto: NICHOLAS KAMM/AFP

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, “sepultou” a Guerra Fria com Havana com um emotivo discurso de reconciliação, a favor da mudança e da liberdade de expressão na ilha comunista, antes de partir rumo à Argentina nesta terça-feira.

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“Vim aqui deixar para trás os últimos vestígios da Guerra Fria. Vim aqui estendendo a mão da amizade ao povo cubano”, afirmou Obama no Grande Teatro de Havana. Raúl Castro acompanhou o discurso em uma tribuna de honra, ao lado de vários dirigentes do governo.

Em mensagem ao povo cubano, aplaudida várias vezes pelo público que lotou o teatro, Obama afirmou que o embargo econômico dos Estados Unidos contra Cuba “fere os cubanos” e, falando em espanhol, convidou os jovens cubanos a “construir algo novo”.

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“Sí, se puede” (sim, é possível), disse Obama, também em espanhol, evocando o famoso lema de sua campanha eleitoral.

O embargo é “um fardo obsoleto sobre o povo cubano”, admitiu, acrescentando que os cubanos “não vão alcançar seu potencial se não fizerem mudanças aqui em Cuba”.

Obama mencionou várias vezes o poeta e herói cubano José Martí e pediu a reconciliação entre os cubanos, ao se referir à “dor” da diáspora cubana, “que ama Cuba”.

Lázaro Bosch, um trabalhador do porto de Havana de 62 anos, disse ter ficado comovido com as palavras do presidente americano. “Mexeu com a fibra dos cubanos. Obama se comunicou com o povo cubano e, diante do alto escalão, algo que muitos jamais pensaram que poderia acontecer”, disse à AFP. “Gostei, sobretudo, quando falou da unidade entre os cubanos, entre o povo dos Estados Unidos e nós”, acrescentou.

Raúl Castro aplaudiu as palavras de Obama contra o embargo americano, em vigor desde 1962, e uma menção ao exemplo do falecido líder sul-africano Nelson Mandela.

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Reconciliação

Para o cientista político Arturo Lopez-Levy, Obama foi um “verdadeiro vencedor” ao apelar ao “discurso da reconciliação nacional”. “Ali, o governo cubano perdeu boas oportunidades de montar uma narrativa própria, nacionalista”, disse à AFP este acadêmico da Universidade do Texas Rio Grande Valley (EUA).

Obama também evocou as profundas divergências entre os dois países - “Cuba tem um sistema de partido único, nós, multipartidário”, disse -, mas, ao mesmo tempo, destacou que os Estados Unidos “não têm a intenção, nem a capacidade” de forçar as mudanças na Ilha.

Obama é o primeiro presidente dos Estados Unidos a visitar Cuba em 88 anos. Em sua visita de três dias, o acompanharam a primeira-dama, Michelle, as filhas Sasha e Malia, e sua sogra, Marion, assim como uma importante comitiva governamental e de empresários.

Obama e Raúl Castro anunciaram a normalização dos vínculos entre os Estados Unidos e Cuba em dezembro de 2014. Em 20 de julho de 2015, restabeleceram as relações, rompidas desde 1961.

Apesar de Obama ter emitido decretos para aliviar o embargo, só o Congresso, controlado pela oposição republicana, pode suspendê-lo.

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Reunião com dissidentes

Logo após o discurso, Obama foi à sede da embaixada americana, onde se reuniu com um grupo de 13 dissidentes. “Quero agradecer a todos os que vieram aqui. Com frequência se requer muita coragem para fazer ativismo em Cuba”, disse Obama. “Este é um tema no qual continuamos tendo muitas diferenças com o governo de Cuba”, acrescentou.

Ao encontro, que se estendeu por pouco mais de uma hora, compareceram, entre outros, Berta Soler, das Damas de Branco, Elizardo Sánchez, da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, e Guillermo Fariñas, Prêmio Sakharov 2010 para os Direitos Humanos.

“O presidente se mostrou muito receptivo e muito paciente. Escutou todas as diversas opiniões dos participantes”, afirmou o opositor moderado Manuel Cuesta Morua à AFP.

Em seu discurso aos cubanos, Obama defendeu os valores da democracia e as liberdades. Raúl Castro negou nesta segunda-feira que em Cuba haja presos políticos. “Dê a lista agora mesmo dos presos políticos para soltá-los, mencione-a agora”, desafiou Raúl Castro diante da pergunta de um jornalista americano.

Diplomacia do beisebol

Após fazer história, Obama e Raúl Castro tiraram a gravada e se sentaram juntos para assistir o início do jogo entre o Tampa Bay Rays das Grandes Ligas (MLB) e a equipe nacional de beisebol de Cuba.

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Ali fizeram um minuto de silêncio pelos atentados desta terça-feira em Bruxelas. Foi o epílogo feliz desta inédita visita em que Obama e Raúl Castro se comprometeram a aprofundar a relação entre seus dois países, pondo de lado suas diferenças.

Em Washington, o comitê nacional do Partido Republicano criticou duramente Obama pelo que considerou “uma exibição vergonhosa de fragilidade e falta de clareza moral”.