O empresário venezuelano Guido Antonini Wilson complicou nesta quarta-feira (24) a situação do governo da presidente Cristina Kirchner no escândalo que ficou conhecido como "caso da mala". Ele confirmou o envio clandestino, em agosto de 2007, de US$ 6 milhões de Caracas para Buenos Aires (e não mais US$ 5 milhões, como havia afirmado antes), divididos em duas maletas, e disse que o destino do dinheiro era a campanha eleitoral de Cristina, eleita presidente da Argentina em outubro.
Diante da Justiça Federal americana em Miami, Antonini confirmou as conversas gravadas secretamente pelo FBI entre ele e agentes do governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Segundo Antonini, o total de dinheiro estava dividido em uma maleta com US$ 790 mil, que ele carregava, e outra com US$ 4,2 milhões. O envio dessa verba seria um indício das conexões irregulares entre o governo Chávez e o casal Kirchner.
Antonini disse que as malas foram embarcadas em Caracas em um vôo fretado por funcionários do governo do então presidente argentino Néstor Kirchner. As malas foram colocadas no avião por Claudio Uberti, homem de confiança dos Kirchners, e Rafael Reiter, chefe de segurança da estatal venezuelana Petróleos de Venezuela SA (PdVSA).
O "caso da mala" veio à tona em agosto do ano passado, quando Antonini tentou desembarcar em Buenos Aires com os US$ 790 mil. Acompanhado por executivos da PdVSA, o empresário chegou à cidade em um vôo fretado pela estatal energética argentina Enarsa.
Mala confiscada
Um dos passageiros argentinos, Claudio Uberti (diretor do organismo de fiscalização de pedágios, mas que na prática, atua como negociador entre empresas venezuelanas e a Argentina), teria pedido a Antonini que carregasse uma mala para ele. Ao passar pela Polícia Alfandegária, o venezuelano foi então interrogado e disse que havia livros na mala, que foi confiscada em seguida.
Mesmo após o escândalo, Antonini foi ao palácio presidencial, para participar de um coquetel. Ele diz que ali foi apresentado ao ministro do Planejamento da Argentina, Julio De Vido, que nega conhecer o empresário. Após três dias em Buenos Aires, Antonini partiu para Miami, onde foi convencido pelo FBI a colaborar. O organismo gravou conversas do empresário (que mora há 15 anos em Miami e tem cidadania americana) com agentes venezuelanos, que tentavam convencê-lo a manter silêncio.
Antonini - que há 10 meses vive em um lugar secreto na Flórida, protegido pelo FBI - afirmou na terça-feira que, para não contar o que sabia, o governo argentino lhe ofereceu "o que quisesse". Suas declarações estão prejudicando a visita de Cristina a Nova York, onde pretendia recuperar a confiança dos mercados na Argentina, durante a Assembléia-Geral das Nações Unidas.
O "caso da mala" acabou, por um lado, esfriando as relações entre Buenos Aires e Chávez. Por outro, proporcionou mais munição à oposição argentina, que agora pede que a Justiça investigue irregularidades no financiamento da campanha de Cristina. O escândalo também prejudicou a popularidade da presidente.
O caso também abalou as relações de Cristina com o governo dos EUA. Diversos assessores da presidente argentina afirmaram que as acusações não passavam de uma "operação suja" promovida pelo FBI.
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