O presidente paraguaio, Fernando Lugo, disse nesta quarta-feira (24) que as máfias que passaram décadas se beneficiando do Estado em seu país agora tentam desestabilizar seu governo, que move uma guerra contra a ilegalidade e a corrupção.
Em seu primeiro discurso à Assembléia Geral da ONU, ele enfatizou a necessidade de eliminar a fome no mundo e respeitar o meio ambiente. Falou também da proteção a comunidades indígenas, imigrantes, pobres e incapacitados.
"Há duas semanas, antes de concluir o primeiro mês de governo, começamos a grande guerra contra a ilegalidade na gestão governamental", disse o ex-bispo de idéias socialistas, cuja eleição rompeu mais de seis décadas de hegemonia do Partido Colorado.
"As máfias...se encontram no pior momento da sua história. Não descartamos que, exclusão das mesmas do benefício dos escandalosos lucros que criavam milionários da noite para o dia, comecem a se entrincheirar e ainda formulem tentativas concretas de instabilidade", afirmou.
O Ministério Público paraguaio desmantelou há algumas semanas uma rede de corrupção na administração estatal de portos fluviais, por denúncia do novo diretor, que recebeu uma oferta para entrar no esquema de contrabando.
O novo governo iniciou investigações semelhantes em outros órgãos públicos, e anunciou a exoneração de milhares de funcionários contratados como parte de favores políticos durante a última campanha eleitoral.
"A resposta do governo se formula com serenidade, mas com firmeza. Intolerância absoluta a qualquer tentativa antidemocrática e portas fechadas ao diálogo chantagista", disse Lugo, que logo depois da posse apontou um complô para derrubá-lo.
Ele agradeceu o apoio internacional que recebeu depois do incidente e aludiu à crise na vizinha Bolívia e às tensas negociações com Brasil e Argentina pelo preço da energia gerada nas hidrelétricas binacionais de Itaipu e Yacyretá.
"Nosso governo está empenhado em priorizar e utilizar esses recursos renováveis para o desenvolvimento econômico e social. Estamos situados no marco de um diálogo cada vez mais fluente com nossos países irmãos com os quais compartilhamos essas centrais , para que o equilíbrio de seus benefícios possa reparar dívidas sociais."
Ele lembrou que mais de 35 por cento dos paraguaios vivem na pobreza, sendo 20 por cento indigentes, e que 4 por cento das crianças do país sofrem de desnutrição.
"Esta situação é inaceitável e exige uma mudança radical", afirmou Lugo, que também condenou o terrorismo, defendeu a relevância da ONU e falou da importância do amor e da amizade. Pela primeira vez em décadas, um presidente do Paraguai deixou de usar o discurso na Assembléia Geral para defender a adesão de Taiwan à comunidade internacional.
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