Os Estados Unidos e a Rússia iniciaram nesta quinta-feira (12) uma importante discussão sobre a proposta russa para que a Síria entregue seu arsenal químico e seja poupada de uma ação militar norte-americana. No mesmo dia, o governo sírio disse ter aderido de forma plena à convenção global contra armas químicas.
Apesar do aparente avanço dos últimos dias na frente diplomática, o secretário norte-americano de Estado, John Kerry, disse que a opção militar não foi descartada para punir o governo sírio pelo uso de armas químicas contra civis.
"Isto não é um jogo", disse Kerry a jornalistas ao lado do chanceler russo, Sergei Lavrov, após o início da discussão em Genebra, na Suíça.
A proposta russa já levou o governo dos EUA a uma pausa nos seus planos para atacar a Síria, que nega ter usado armas químicas contra seus civis em um ataque ocorrido em 21 de agosto nos subúrbios de Damasco, matando mais de 1.400 pessoas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou ter recebido nesta quinta-feira um documento da Síria sobre sua adesão à convenção global contra armas químicas, em vigor desde 1997. Assad havia prometido fazer isso como parte do acordo para evitar um ataque norte-americano.
A Síria era um dos únicos sete países que não aderiram à convenção que proíbe a fabricação, posse e transferência de armas químicas. Os outros seis países são Egito, Israel, Coreia do Norte, Angola, Sudão do Sul e Mianmar.
Os Estados Unidos imediatamente alertaram a Síria para que não adote uma tática de protelação a fim de evitar uma ação militar. Nesta semana, o presidente sírio, Bashar al-Assad, disse a uma TV russa que só abandonaria seu arsenal nuclear quando os EUA parassem de fazer ameaças.
Kerry manifestou certo otimismo com as negociações em Genebra, que devem durar dois dias. "Acreditamos que há uma forma para que isso saia", disse ele, acrescentando que os EUA estão "gratos" pelas ideias sugeridas por Moscou.
Mas ele e Lavrov divergiram fortemente sobre as ameaças militares dos EUA.
"Partimos do fato de que a solução deste problema tornará desnecessário qualquer ataque à República Árabe da Síria", disse Lavrov ao lado de Kerry, que por sua vez declarou: "O presidente (norte-americano, Barack) Obama já deixou claro que, caso a diplomacia fracasse, a força poderia ser necessária para conter e degradar a capacidade de uso dessas armas por Assad". Ele ressalvou, no entanto, que a solução pacífica é "claramente preferível" à ação militar.
A Rússia é a principal aliada internacional de Assad em dois anos e meio de uma guerra civil que já matou mais de 100 mil pessoas. Com a colaboração da China, os russos já vetaram três propostas ocidentais de resolução do Conselho de Segurança da ONU contra o governo sírio.
A Síria concordou com a proposta russa para entregar seus estoques de armas químicas, evitando o que poderia ter sido a primeira intervenção ocidental direta na guerra civil do país.
"Legalmente falando, a Síria se tornou a partir de hoje um membro pleno da convenção", disse o embaixador sírio na ONU, Bashar Ja'afari, a jornalistas em Nova York após apresentar documentos relevantes à organização.
Porém, vários diplomatas e um funcionário da ONU disseram à Reuters sob anonimato que ainda não está claro se a Síria cumpriu todas as condições para a adesão legal ao tratado.
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