O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (25) a ordem executiva para dar início à construção de um muro ao longo da fronteira com o México, além de congelar recursos públicos para cidades que se negam a prender e a deportar imigrantes em situação irregular. A construção do muro é uma das mais polêmicas propostas da campanha eleitoral de Trump, que insiste em que o México pagará pela obra de alguma forma.
“Entre outras coisas, nós vamos construir o muro!”, escreveu o presidente Donald Trump em seu Twitter. Criticado por muitos, o plano foi um das plataformas de Trump para concorrer ao cargo mais disputado dos EUA. Em meio discussões, ameaças e compromissos, entenda o que é a barreira proposta pelo presidente americano:
O que é o muro?
Trump já disse que quer construir um impenetrável, enorme, poderoso e lindo muro na fronteira. O projeto é gigantesco (alguns estudos apontam que um muro dessas proporções precisaria de três vezes mais aço do que o necessário na construção da represa Hoover) e cobriria uma área de 3,1 mil quilômetros. Levando em consideração a geografia da fronteira, isso incluiria atravessar todos os tipos de terrenos, de rios à vales, de desertos à áreas repletas de verde.
Contudo, não é um projeto completamente inédito. Os Estados Unidos já têm barreiras e cercas construídas ao longo das últimas três gestões presidenciais. Bill Clinton, George W. Bush e até mesmo Barack Obama expandiram esse projeto, que conta atualmente com cerca de mil quilômetros não sequenciais. Ainda assim, a barreira construída pelos presidentes anteriores não é verdadeiramente impenetrável e nenhum deles se propôs a fazer dela um dos pontos centrais de sua administração. Trump, não. O republicano vê o muro como um dos maiores legados possíveis para sua administração, e já está articulando ativamente o congresso para que ela saia do papel.
Críticas
Para Trump e seus aliados, a construção do muro é essencial para a segurança nacional dos EUA - embora o próprio secretário de Segurança eleito para o seu governo tenha colocado em dúvida a funcionalidade da obra. Durante a campanha, o presidente americano disse que o México, quando manda suas pessoas, “não manda as melhores”. “São pessoas repletas de problemas, e eles os trazem com eles. Trazem drogas. Trazem crimes”.
Mas essa não é a visão de muitos americanos. Especialistas de relações internacionais questionam diretamente quais os ganhos e benefícios de se construir um muro dessas proporções na fronteira com um parceiro econômico e cultural tão importante. E se as declarações como “o governo mexicano é muito mais esperto, inteligente e malandro. Eles nos enviam as pessoas ruins pois não querem pagar por ela”, feitas pelo presidente, não são prejudiciais para o relacionamento entre os países.
A questão de segurança e eficácia preocupa especialistas. Desde a criação da cerca e da patrulha de fronteira feita nos anos 90, milhões de imigrantes ilegais chegaram aos EUA. Além disso, centenas morreram ao longo dos anos tentando atravessar de um país para o outro.
Como se constrói
Um projeto de tamanhas proporções seria um marco na construção civil. Como a equipe do presidente pretende realizar esse feito? Ainda é muito nebuloso, pois o Trump não deu qualquer tipo de diretriz detalhando como a obra seria realizada, ou qual seria o formato do muro. Ele negou que se tratasse de uma cerca ou arame farpado, mas para por aí. A altura, espessura e material utilizados para o muro são um mistério. Mas em clima de brincadeira, um projeto já foi elaborado por arquitetos...mexicanos.
Secretário de Segurança de Trump colocou em dúvida eficiência do muro “separatista”
Leia a matéria completaTambém há a questão legislativa: como Trump passaria seu projeto pelo Senado americano? A resposta poderia estar no “Ato da cerca de segurança”, de 2006. A lei, que passou na gestão Bush e teve votos a favor de políticos democratas como Chuck Schumer e Barack Obama, permitiu a construção de mil km de cerca física e outra “virtual” - com sistemas de vigilância. Para alguns republicanos, ela daria autoridade suficiente ao presidente para continuar a construção de um muro na região.
Isso permitiria ao Congresso adicionar os custos da obra ao planejamento anual de gastos do tesouro sem precisar legislar. Ainda que a oposição pudesse bloquear essa sugestão, se trata de uma situação muito mais delicada, pois embargaria toda a negociação de gastos para o ano, arriscando uma crise governamental.
E como se paga?
Uma das questões mais levantadas durante a campanha de Trump e os seus primeiros dias no cargo é a de como se pagará o muro. Dada a complexidade da obra, o preço da barreira é um tema polêmico. Durante sua campanha, o republicano orçou a construção na casa dos US$ 10 bilhões. Porém, especialistas discordam do valor, colocando-o muito acima do proposto pelo magnata. Com a obra dos primeiros mil quilômetros tendo custado US$ 7 bilhões, e contando apenas com cercas, seria improvável que o projeto completo saísse por menos do que o dobro do original. Um estudo feito pelo jornal americano Washington Post coloca o orçamento geral na casa dos US$ 25 bilhões.
Trump não parece ter problemas com isso. Uma de suas declarações constantes sobre o tema era de que, de uma maneira ou de outra, o governo mexicano arcaria com os custos do muro. A maneira como se daria o pagamento ainda não é clara, dado que o presidente mexicano Enrique Peña Neto disse repetidas vezes que o seu país não gastaria qualquer dinheiro com a obra.
O presidente americano não se abalou pela recusa, e disse que começará a obra primeiro com dinheiro liberado pelo Congresso, e que o retorno vindo do país vizinho seria feito aos poucos. Entre as sugestões feitas por Trump estão algumas polêmicas: ele chegou a dizer que impediria os imigrantes sem documentos de mandar dinheiro de volta para o México, e esse seria um meio de arrecadação. O mais provável, porém, é de que o republicano negocie os pagamentos através de tarifas comerciais e aumento de preço para tirada de vistos e aduana.
Reação do México
A barreira de Trump não impacta apenas os EUA, mas também causa grandes repercussões ao seu vizinho direto, o México. O governo mexicano expressou repetidas vezes seu descontentamento com a ideia e sua recusa em pagar o muro, um dos pontos principais de Trump para a construção. Ainda assim, com o país mergulhado em uma crise política e econômica, Peña pode se ver na posição de ter que negociar. Um exemplo é a decisão de nomear Luis Videgaray como ministro de Relações Exteriores do país, que tem um bom relacionamento com o novo presidente americano.
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