Embora os partidos extremistas de direita europeus tenham condenado o atentado da Noruega, eles seriam, de certa forma, autores intelectuais do crime, segundo Stefan Schölermann, especialista em extrema-direita de Hamburgo e autor de vários livros sobre o assunto. Para Schölermann, esses partidos pregam ideias idênticas às do assassino de Oslo: um medo difuso dos imigrantes muçulmanos. Nesta entrevista à Agência O Globo, em Berlim, ele diz que teses como as do holandês Geert Wilders [líder do Partido para a Liberdade, da Holanda] vão "contra a sociedade aberta e tolerante", diz.
O senhor vê os partidos extremistas europeus como autores intelectuais dos atentados de Oslo?
Há muitos elementos em comum entre o homem de Oslo e os partidos populistas de direita na Europa, como, por exemplo, o medo dos imigrantes, o medo do Islã, o medo do casamento homossexual. As suas ideias são com certeza influenciadas pelo populismo de direita. Os partidos não são responsáveis pelo ato fanático de Anders, mas eles pregaram essas ideias e, de certa forma, influenciaram o norueguês.
No seu manifesto de mais de mil páginas, Anders cita partidos extremistas e jornalistas europeus que se falam do chamado "perigo do Islã"...
É difícil dizer como ele chegou às suas ideias loucas. Ele mesmo diz que foi influenciado pela Guerra do Golfo e conflitos da antiga Iugoslávia. Eu acho que quem pratica uma ação criminosa tão monstruosa deve ter tido uma experiência pessoal que o marcou. Mas teses como as de Geert Wilders são altamente perigosas porque espalham um clima que vai contra as ideias de uma sociedade aberta e tolerante.
Na sua opinião, ações tão violentas quanto as da última sexta na Noruega podem influenciar populistas de direita para que passem a ter mais cautela com as suas ideias extremistas?
É difícil dizer. Eu sei porém que fóruns direitistas na internet têm classificado o atentado de Oslo como uma catástrofe para a direita. Nenhum extremista quer se ver associado a uma ação que parece mais a de um serial killer.
Alguns analistas advertem para o perigo dos fundamentalistas cristãos, que seriam uma resposta aos fundamentalistas islâmicos.
O que há de concreto nisso?
Há círculos altamente conservadores que cultivam o medo do Islã. Mas Anders usou o conceito apenas, pois não fazia parte de nenhuma organização. Há na internet blogs que se definem como fundamentalistas cristãos. Anders cita o blogueiro Fjordman, da Suécia, um fundamentalista cristão cuja identidade não é conhecida.