Por razões que a própria razão desconhece, tipos de cachorro totalmente sem pêlo eram considerados sagrados pelos astecas e outros povos da América pré-colombiana. Agora, uma equipe internacional de pesquisadores identificou o gene responsável por tornar pelados esses feiosos canídeos: um trecho de DNA importantíssimo para o desenvolvimento do epitélio e dos dentes.
A pesquisa, coordenada por Tosso Leeb, da Universidade de Berna, na Suíça, batizou o gene recém-descoberto de FOXI3. Já se sabia a região mais abrangente do genoma canino onde o dito cujo se encontra. Aliás, carregar a variante "pelada" do gene não é exatamente uma coisa boa. Os cães com uma só cópia dele (em mamíferos, todo gene vem em duas cópias, uma oriunda do pai e a outra, da mãe) não têm pêlos e sofrem de dentes malformados ou simplesmente ausentes. Já os que têm duas cópias nem chegam a nascer: a mutação parece ocasionar problemas sérios no desenvolvimento embrionário.
Investigando amostras de DNA de cachorros carecas de origem mexicana, peruana e chinesa, e comparando o material genético dos totós ao de suas contrapartes peludas, os pesquisadores flagraram a repetição de sete "letrinhas" químicas de DNA desse gene. O efeito da mutação deslocou para a frente a "leitura" do gene, ligada à proteína codificada por ele, e também fez com que essa leitura terminasse prematuramente. Mal comparando, é como se a frase "O cachorro é careca" passasse a ser escrita "Horro é c". Dessa forma, a proteína codificada pelo gene deixa de ser funcional, ocasionando a falta de pêlos dessas raças.
Com toda essa bagunça genética, não é à toa que a versão oriental desses bichos - o chamado cristado chinês - costuma vencer de goleada os concursos de cachorro mais feio do mundo.