A presidente do país combate pedidos para seu impeachment. O presidente da Câmara dos Deputados precisa lidar com acusações de que colocou no bolso uma propina de cinco milhões de dólares. O antigo tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, o partido do governo, está na cadeia.
Até mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos mais importantes líderes políticos do país nas últimas décadas, enfrenta uma investigação sobre alegações de tráfico de influência.
A cruzada contra a corrupção no Brasil aponta para uma figura política importante após outra, jogando o país em uma convulsão num momento em que o estado de espírito nacional azedou e a economia está se recuperando de uma recessão dolorosa.
Grandes segmentos da classe política manobram contra a presidente Dilma Rousseff, numa rebelião liderada por algumas figuras envolvidas em escândalos de corrupção. Para muitos brasileiros, a crescente sensação de incerteza política está chegando a seu pior momento desde que a democracia foi restabelecida na década de 1980, depois de uma longa ditadura militar.
“Eu já vi o Brasil estagnado e assustado em muitas crises, mas nunca o vi tão sem esperança como hoje”, afirma Paulo Cunha, 75, presidente do Ultra, uma empresa distribuidora de combustível e fabricante de produtos químicos. O aspecto mais triste deste impasse, acredita ele, é “a completa ausência de líderes”.
Um escândalo de corrupção colossal está derrubando o sistema político, envolvendo legisladores, empresários e pessoas que cercam a Petrobras, a companhia petrolífera controlada pelo governo. Cerca de três bilhões de dólares em subornos foram pagos aos executivos da empresa, que enriqueceram e partilharam os ganhos ilícitos com figuras políticas, de acordo com o depoimento de delatores. As companhias pagaram propinas para ganhar contratos lucrativos com a petrolífera.
Apesar de Dilma Rousseff não ter sido acusada, o esquema de propina floresceu enquanto ela era a presidente do conselho da Petrobras e continuou durante os primeiros anos depois que ganhou a eleição para presidente do país.
“O país está péssimo com a Dilma, mas ficaria ainda pior sem ela”, afirma o professor de matemática Ronaldo Doria, 53. “A solução não está em romper com a democracia”, acrescenta, argumentando que alguns críticos se esqueceram da longa luta para permitir que a liberdade de expressão florescesse no Brasil. “Pelo menos aqueles que falam mal de Dilma podem fazê-lo sem medo de ser presos.”
A oposição parece quase tão perdida quanto Dilma. O Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB, fundado em parte por intelectuais de esquerda que se opunham à ditadura militar, agora abraça visões centristas, conservadoras e socialmente liberais. Seus líderes parecem felizes de deixar Dilma à deriva, mesmo que isso agrave a incerteza na capital, Brasília, e provoque repercussões na economia.
Dois líderes do partido, Aécio Neves, senador que concorreu com Dilma nas eleições de 2014, e Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, disseram que não são eles que devem resolver a o problema político.
Legisladores da oposição estão tentando iniciar um processo de impeachment contra Dilma. Apenas alguns meses depois de sua reeleição, ela viu seus índices de aprovação chegarem à casa de um dígito, com a economia complicada e o produto interno bruto encolhendo mais de dois por cento este ano.
Mas uma economia decadente não é uma ofensa que leve ao impeachment, e não há qualquer prova sugerindo que ela recebeu propinas, o que complica o esforço para tirá-la do poder. No entanto, muitos eleitores acreditam que Dilma é responsável por não diminuir a corrupção em seu próprio governo e por visões políticas que pioraram a economia.
Os analistas dizem que Dilma não conseguiu construir um contrataque efetivo. Seu predecessor, Lula, apontou-a como sua herdeira política mesmo sem que ela tivesse concorrido outras vezes. Dilma foi eleita em 2010, quando a economia do Brasil crescia a uma taxa de 7,5 por cento, e Lula gozava de uma imensa popularidade.
Cinco anos depois, seus apoiadores dizem que um “golpe” está sendo engendrado por seus opositores.
Muitos brasileiros expressam desânimo sobre Dilma e seus oponentes. “Não vejo ninguém que possa tomar o lugar dela, porque todas as opções são patéticas”, afirma Gabriela Souza, de 30 anos.
Contribuiu Mariana Simões