O escritório panamenho de advocacia Mossack Fonseca, envolvido nos chamados “Panama Papers”, pediu nesta quinta-feira (5) ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) que não publique novos documentos sobre paraísos fiscais e deixou entrever futuras ações legais.
A empresa panamenha enviou uma carta ao ICIJ na qual o convoca a desistir de publicar integralmente os “Panama Papers” na próxima segunda-feira (9), como está previsto, porque é “um roubo de informação e uma violação ao tratado de confidencialidade entre cliente e advogado, o que nos devemos esforçar em proteger”.
“Esperamos que a polêmica não nos arraste a futuras ações legais”, manifestou o escritório panamenho em um comunicado.
Os “Panama Papers” são um vazamento de documentos realizado pelo ICIJ onde foi revelado que o escritório Mossack Fonseca criou uma série de empresas offshore para personalidades de todo o mundo, o que pode ter facilitado a evasão de impostos em nível mundial.
Após as primeiras publicações no mês passado, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos anunciou que divulgaria integralmente todos os documentos na próxima segunda-feira.
Após a publicação dos documentos, a França voltou a incluir o Panamá em uma lista de paraísos fiscais, enquanto as maiores economias do mundo, reunidas no G-20, pediram que os países não cooperativos em matéria de informação fiscal sejam punidos.
Segundo Mossack Fonseca, os meios de comunicação “se alimentaram de informação roubada de nosso sistema para divulgar notícias fora de contexto e afetar nossa reputação como empresa séria”.
“O Mossack Fonseca opera em todas as jurisdições sob o rígido cumprimento das regulações respectivas da indústria”, diz a nota.
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, pessoas próximas ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, ou ao primeiro-ministro britânico, David Cameron, o ex-chefe da UEFA Michel Platini, o astro argentino Lionel Messi e o diretor de cinema espanhol Pedro Almodóvar são mencionados em alguns dos Panama Papers.
As autoridades panamenhas vasculharam em várias ocasiões escritórios e outras instalações desta empresa de advocacia em busca de informação sobre possíveis crimes de lavagem de dinheiro, mas até o momento nenhum de seus diretores está detido ou foi processado.
Fonte dos ‘Panama Papers’ prevê ‘revolução digital’
A fonte das revelações dos “Panama Papers” faz uma acusação dura contra a inércia política, da justiça e dos meios de comunicação contra os paraísos fiscais, prevendo uma “revolução digital” no jornal alemão Süddeutsche Zeitung desta sexta-feira (6).
Apelidado de “John Doe”, um nome geralmente usado para preservar a identidade de uma pessoa ou designar um morto não identificado, o informante, que falou pela primeira vez desde a revelação do caso em abril, promete “cooperar” com os “milhares de processos” decorrentes do escândalo, desde que os “denunciantes” tenham “imunidade contra represálias dos governos”.
“A próxima revolução será digital. Ou talvez ela já começou”, diz em seu longo “manifesto”, escrito em inglês, considerando que “o acesso à informação”, muito desigual mas transformado pela internet, é a chave de um sistema capitalista distorcido “que se aproxima de uma escravidão econômica”.
Sua decisão de divulgar gratuitamente para uma centena de meios de comunicação cerca de 11,5 milhões de documentos do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca é “pessoa”, porque ele percebeu “a magnitude das injustiças”, explicou, de acordo com a tradução francesa do jornal Le Monde.
“Eu não trabalho nem nunca trabalhei para um governo ou serviço de inteligência, seja diretamente ou como consultor”, limita-se a afirmar, sem entregar qualquer pista sobre sua nacionalidade, identidade ou funções.
Mossack Fonseca, acusa, “usou sua influência para escrever e torcer as leis em todo o mundo em favor dos interesses criminais por décadas”, protegendo por meio de empresas de fachada, de fato legais, “uma ampla gama de crimes que vão além da evasão fiscal”.
“Por 50 anos, os ramos executivo, legislativo e judiciário do poder em todo o mundo falharam completamente em tratar as metástases dos paraísos fiscais”, alvejando “cidadãos de baixa e média renda”, e não os ricos, afirma.
Ele que quis confiar suas revelações ao Süddeutsche Zeitung e ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) também atacou a mídia, lamentando a “falta de financiamento” do jornalismo investigativo e desinteresse dos grandes meios de comunicação.
“Os chefes de vários veículos de imprensa puderam consultar os documentos dos ‘Panama Papers’ - mesmo que tenham garantido o contrário. Mas optaram por não explorá-los”, revela ele, acrescentando que “mesmo o WikiLeaks não respondeu a várias de suas solicitações”.
Desde o início de abril, as revelações dos “Panama Papers” causaram a abertura de muitas investigações em todo o mundo e levaram o primeiro-ministro islandês e um ministro espanhol a renunciar.
Estes documentos revelam o uso generalizado de empresas offshore para esconder ativos em jurisdições sigilosas e de baixa tributação.
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