O Conselho de Ministros da Espanha, a pedido do Ministério da Justiça, aprovou nesta sexta-feira a extradição para a Argentina de Julio Alberto Poch, acusado de ser um dos ex-pilotos dos "voos da morte", denominação dos voos nos quais os prisioneiros políticos da ditadura militar (1976-1983) eram jogados vivos desde os aviões no Rio da Prata ou no mar. A Justiça espanhola considerou que Poch é suspeito de "detenções ilegítimas, torturas, lesões, desaparecimentos e mortes".

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Os organismos de defesa dos Direitos Humanos em Buenos Aires celebraram a decisão dos tribunais em Madri. O chanceler argentino Jorge Taiana, que acompanha a presidente Cristina Kirchner em uma visita à Washington, afirmou ontem que a extradição obtida "consolida a ideia de que a impunidade não pode respaldar-se em fronteiras ou nacionalidades".

O piloto, de 57 anos, cuja extradição era solicitada desde 2008, foi detido em 2009 na cidade espanhola de Valência. Poch, que após o fim da ditadura havia se refugiado na Holanda, foi denunciado pelos colegas de trabalho da companhia aérea Transvisa por se ufanar em público de ter protagonizado os "voos da morte".

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Em conversas com os colegas pilotos e comissários de bordo, Poch - que continuava exercendo a mesma profissão que tinha na Argentina, embora em aviões civis - relatava com detalhes sórdidos como os prisioneiros eram arremessados ao mar, ainda vivos. Segundo seus colegas, Poch justificava em público o modus operandi aplicado pelos pilotos navais para eliminar os prisioneiros. No entanto, Poch alega que seus colegas interpretaram "erroneamente" suas afirmações. Ele sustenta que não passa de um "prisioneiro político" do governo da presidente Cristina Kirchner.

Despedaçados

Entre 1976 e 1978 dezenas de corpos despedaçados surgiram nas costas uruguaias e argentinas. Ao longo da última década, por intermédio de exames de DNA, diversos desses restos mortais foram identificados como pertencentes a desaparecidos da ditadura.

Diversas estimativas indicam que os militares argentinos utilizaram os voos da morte para eliminar entre 800 e 900 civis suspeitos de "atividades de subversão" ou de terem conexões sociais ou de parentesco com "subversivos".

A maior parte das vítimas destes voos eram prisioneiros do principal centro de torturas do regime, a Escola de Mecânica da Armada (ESMA), localizada no portenho bairro de Núñez, a dez quarteirões do estádio do River Plate.

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Em 1995, o capitão Adolfo Scilingo, ex-integrante da ESMA, transformou-se no primeiro "arrependido" da Marinha em contar detalhes dos voos da morte. Segundo Scilingo, os prisioneiros eram adormecidos para facilitar o procedimento de atirá-los desde os aviões sobre o mar.

A ideia de jogar os prisioneiros no mar surgiu como uma alternativa para evitar os fuzilamentos. A cúpula militar considerava que os fuzilamentos realizados nas ditaduras do espanhol Francisco Franco e do chileno Augusto Pinochet haviam deixado "pistas demais". Portanto, o arremesso dos corpos longe da costa tendia a reduzir o volume de rastros dos desaparecidos políticos.

Os capelães da Igreja Católica argentina, alinhada na época com a ditadura, consolavam os pilotos que ficavam perturbados com o procedimento de jogar as pessoas vivas. Os padres, nessas ocasiões, citavam o preceito bíblico de "separar o joio do trigo".

A ditadura argentina torturou e assassinou 30 mil civis, além de sequestrar 500 bebês, filhos dos desaparecidos.

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