Morte de Bin Laden foi golpe que deixou Al-Qaeda desorganizada
Dez anos depois dos ataques ao World Trade Center, os maiores desafios da Al-Qaeda não estão no mundo ocidental, mas nas ideias que surgem em meio às revoltas do mundo árabe. Em entrevista à Gazeta do Povo concedida por telefone, o sociólogo Demétrio Magnoli fala sobre a origem dessa organização terrorista que marcou a última década e do seu declínio, que começou antes mesmo da morte do principal líder, Osama bin Laden. Magnoli é autor do livro Terror Global (Publifolha).
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"Um erro colossal" é a maneira como Mike Miller define a Guerra do Iraque. Professor da Universidade de Delaware e especialista em Segurança Nacional nos Estados Unidos, ele é bastante objetivo ao comentar a intervenção norte-americana inspirada pelo 11 de Setembro: "Não conheço ninguém que a apoie".
A Guerra ao Terror anunciada pelo presidente George W. Bush começou nas ruas de Nova York moradores se lembram dos tanques e militares ocupando as ruas da cidade nos dias subsequentes aos atentados e avançou até os territórios iraquiano e afegão.
Se a Guerra do Afeganistão rende discussões e controvérsias, parece mesmo haver um consenso em torno do conflito no Iraque. "O governo Bush traiu os americanos. Foi escandaloso", diz Miller. Agora, os EUA precisam sair definitivamente do país, mas não conseguem, porque a segurança interna está muito instável.
Em entrevista por e-mail, Robert Jervis, professor de Relações Exteriores da Universidade Columbia, em Nova York, afirma que a Guerra do Iraque foi significativa em dois sentidos. "Tanto no volume de dinheiro que consumiu diferentemente de outras guerras americanas, ela foi totalmente paga com empréstimos quanto no de vidas perdidas", diz.
Para Jervis, o país teve uma experiência inédita ao derrubar Saddam Hussein e assumir os problemas do Iraque. "Acredito que o conflito iraquiano ensinou aos EUA uma lição valiosa, mas dolorosa, a respeito das dificuldades de se reformar outras sociedades", afirma o professor de Columbia.
O conflito no Afeganistão, país que abrigava terroristas, recebe críticas, mas foi com ele que os americanos conseguiram atingir algumas das metas que almejavam. A maior delas? Desmantelar a Al-Qaeda.
"Não existem mais ataques de grandes proporções. Isso é um fato", diz Marcos Alan Ferreira, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos. Para Ferreira, a ação militar no Afeganistão, iniciada em 2001 mesmo, foi um acerto. "Era um Estado que não respeitava os direitos humanos", diz.
Analisando as campanhas americanas no Oriente Médio, a professora de Geopolítica Luciana Worms, da rede Positivo, vê como o 11 de Setembro alimenta a fornalha do motor que faz funcionar um círculo vicioso. "É necessário que os homens chamados de terroristas cometam suas barbáries para que os EUA possam justificar sua política intervencionista. Os EUA precisam do terror", diz.
A lógica americana gerou uma quantidade avassaladora de problemas e quem está lidando com eles hoje é o presidente Barack Obama. Aqui, o professor Mark Miller diz que, embora o mandatário esteja determinado a tirar os EUA do Afeganistão, ele sente a pressão política.
"Ele não quer os republicanos culpando-o pela perda do Iraque e do Afeganistão e, no entanto, é evidente que os EUA não têm como vencer nenhuma das duas guerras", diz Miller. Para o analista, a única maneira de os EUA "livrarem a cara" seria fazer um acordo regional envolvendo o Irã e a Turquia. "Mas o Irã é o novo bicho-papão [dos americanos] e a esperança de Obama de melhorar as relações com o governo iraniano não se confirmou. Aqui, Israel é um fator-chave", diz, referindo-se ao fato de o Irã de Mahmoud Ahmadinejad não reconhecer o Estado de Israel.
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