O desespero de um dos bombeiros que atuaram no resgate de vítimas do 11 de Setembro, em Nova York| Foto: Stan Honda/AFP

Nova York ainda não consegue

Lee Ielpi é um bombeiro aposentado que, no 11 de Setembro, perdeu o filho que, assim como pai, trabalhava para o FDNY, o Departamento de Bombeiros de Nova York. Jonathan Ielpi era casado e pai de dois meninos. Morreu em meio aos destroços das Torres Gêmeas junto de outros 342 bombeiros, 60 policiais e 3 socorristas.

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Nova York quer seguir em frente, diz Irineo Netto, enviado especial da Gazeta do Povo à cidade. Ouça
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O pesadelo do 11 de Setembro as­­sombra sobreviventes de um modo que pode ser difícil entender para quem não esteve lá. Pelo menos essa a impressão que se tem ao conversar com vítimas e parentes de vítimas dos atentados. Enquanto uns sentem pavor só de falar sobre o que aconteceu naquele fatídico dia, outros de­­monstram grande disposição em narrar o que viu e viveu.

A reportagem encontrou um corretor que escapou dos atentados e enviou algumas questões em um primeiro contato, mas de­­pois ele não aceitou falar. "Peço desculpas. Só de começar a ler as perguntas me deu falta de ar...", respondeu.

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O brasileiro Larry de Faria, corretor da Icap, companhia que de­­tinha quatro andares no World Tra­­de Center (WTC), reage de forma diferente. Ele não tem re­­ceio de explicar o que viu e viveu no 11 de Setembro de 2001. "Para mim, falar do ocorrido foi uma for­­ma de lidar com a situação", diz.

Faria estava trabalhando na manhã da terça-feira quando ouviu um estrondo e sentiu o prédio se mover muito. O escritório da Icap ficava no 25.º andar. "Pen­­sei que, depois de balançar daquele jeito, não era possível que continuasse de pé", diz.

Sem saber o que acontecia, to­­mou a decisão de descer as escadas de emergência na mesma hora. Conseguiu sair da Torre Norte, mas estava a uma quadra do WTC quando a Torre Sul, a segunda a ser atingida e a primeira a cair, desmoronou.

"Foi o momento em que mais senti medo em todo o episódio. Quando tive a noção, o pressentimento de que a coisa poderia cair em cima de mim. Se tivesse caído na minha direção, eu não teria escapado. Não tem como", lembra Faria, que saiu correndo junto com outras pessoas em busca de um refúgio da nuvem de fumaça e detritos.

O som que ouviu era como o estouro de uma manada de búfalos – percebeu a relação ao rever uma cena assim no filme Dança com Lobos (1990). "Era um andar caindo em cima do outro e um barulhão ensurdecedor. Foi uma coisa impressionante", diz.

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Faria perdeu dois amigos e vários conhecidos na tragédia e, segundo ele, ver as torres despencarem significou, em certa medida, ver a sua própria vida se esfacelar. Depois de uma separação, da mudança de país e da distância que se impôs entre ele e os dois filhos, era a primeira vez em anos que as coisas começavam a me­­lhorar. O fim do WTC poderia re­­duzir seus esforços a nada.

Mas os atentados levaram Fa­­ria a pensar diferente. "Eu não que­­ria mais viver uma vida tão atribulada", diz. Até hoje, ele trabalha para a mesma empresa, que conseguiu resistir aos golpes dos terroristas.

Ódio

Lee Ielpi, bombeiro aposentado e fundador do WTC Visitor Cen­­ter, uma ONG que orienta vi­­si­­tantes sobre os fatos relacionados aos atentados de 2001 e reúne informações sobre as vítimas, perdeu o filho no World Tra­­de Cen­­ter.

O rapaz de 29 anos e pai de dois meninos foi um dos 343 bombeiros que morreram naquela terça-feira. "O que você vai fazer com isso?", Ielpi conta que perguntou para si mesmo, referindo-se à perda de Jonathan. "Eu gostaria de fazer algo positivo, de tornar o mundo melhor", diz, em entrevista por telefone, de Nova York.

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O sentimento levou Ielpi a prestar assistência para outras famílias que sofrem com o 11 de Setembro. "Superar [a perda] não é possível. Nesses dez anos, eu me pergunto o que fizemos de positivo para evitar que a história se repita. É importante haver justiça, mas eu não quero sentir ódio", diz.

Interatividade

Como os EUA poderiam homenagear os bombeiros que morreram trabalhando no resgate de vítimas nas Torres Gêmeas?

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