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Papa Francisco reza diante da tumba do papa João Paulo II na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Para o vaticanista americano John Allen, sumo pontífice prega a união dentro da Igreja | L’Osservatore Romano/Reuters
Papa Francisco reza diante da tumba do papa João Paulo II na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Para o vaticanista americano John Allen, sumo pontífice prega a união dentro da Igreja| Foto: L’Osservatore Romano/Reuters

Contexto

O Concílio Vaticano II, iniciado em 1962, promoveu uma reflexão global da Igreja sobre sua própria estrutura e sobre suas relações com o mundo.

Quando em julho do ano passado o papa Francisco anunciou que João Paulo II seria canonizado ao lado de João XXIII, não faltaram vozes surpresas dentro e fora da Igreja.

Se, por um lado, João XXIII é aclamado por uma ala considerada "progressista" de católicos, por ter sido o responsável pela convocação do Concílio Vaticano II e, em consequência, por todas as mudanças percebidas na Igreja desde então, João Paulo II, no sentido oposto, seria louvado pelos chamados "conservadores", por ter se mantido firme aos ensinamentos de sempre da instituição em assuntos polêmicos, como a ordenação de mulheres e a moral sexual.

Nesse cenário, a cerimônia no próximo domingo, que deve reunir 7 milhões de pessoas em Roma, poderia ser uma espécie de estratégia para reforçar que, em realidade, os dois pontífices atuaram no mesmo sentido.

Vaticanistas se dividem em concordar ou não com essa tese de que haveria uma "tática" de fundo – e alguns apenas argumentam que, por ser desconhecido, João XXIII terá uma canonização mais de acordo com os seus méritos ao lado de João Paulo II, um verdadeiro ímã de multidões. De qualquer forma, especialistas lembram que apesar da polêmica sobre os possíveis significados por trás da canonização dupla, a decisão de Francisco não é exatamente inédita.

De acordo com Roberto Romano, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, a união de correntes aparentemente opostas é uma prática comum da Igreja Católica. Trata-se do complexio oppositorum, conceito cunhado pelo jurista alemão Carl Schmitt na obra Catolicismo Romano e Forma Política, segundo o qual a Igreja não assume apenas uma linha de conduta e, sim, procura aproximar as oposições para não provocar rachaduras significativas.

"É uma técnica de renovação e por isso a Igreja Católica é uma instituição tão longeva. A canonização dos dois papas, sem considerar a possível posição política de ambos, está de acordo com essa postura histórica de manter a unidade, mesmo na adversidade", diz Romano.

Para especialistas como Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a dupla canonização não pode ser entendida sob a ótica da atual polêmica entre progressistas e conservadores. "Essa análise não dá conta do processo histórico que a cerimônia representa. Em 50 anos, ninguém mais dará atenção para essa suposta divisão entre progressistas e conservadores. O momento é tão representativo porque a canonização dos dois papas coloca o Concílio Vaticano II entre dois santos", observa, trazendo à equação outro elemento decisivo para a história da Igreja Católica no século 20.

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