O arcebispo emérito da Cidade do Cabo e ícone da luta pela igualdade e reconciliação, Desmond Tutu, lamentou a "exclusão" da comunidade africâner - descendente dos colonos centro-europeus na África do Sul - do funeral de Nelson Mandela, informou nesta quarta-feira (18) o jornal Beeld.
"A exclusão mais chamativa foi a da comunidade africâner. Os líderes religiosos cometeram um erro ao não incluir ninguém da Igreja Reformada Holandesa", disse o clérigo anglicano e velho amigo de Mandela, em comunicado ao jornal em língua africâner, sobre as cerimônias de despedida do ex-presidente,
"Cometemos o erro de não usar a língua africâner nos atos, exceto numas poucas frases na bênção final", acrescentou Tutu, se referindo à cerimônia religiosa em homenagem a Mandela realizada em 10 de dezembro no estádio FNB (antigo Soccer City), em Johanesburgo, e ao funeral, que aconteceu no domingo passado na aldeia natal do ex-presidente, Qunu.
"Fizemos mal em não sermos tão inclusivos como Madiba (como Mandela é conhecido em seu país). Sem dúvida ele teria sido", disse Tutu, para quem seu amigo "teria se sentido consternado" e por isso considera o ocorrido um erro.
Tutu lembrou os esforços de Mandela para que os africâners "se sentissem parte da nova nação que estávamos construindo". O arcebispo lembrou como exemplo a fusão no hino nacional de uma canção africana com o antigo hino nacional em língua africâner.
O carismático líder religioso pediu desculpas aos "irmãos e irmãs da comunidade africâner" e se comprometeu a dar sequência ao exemplo de unidade de Mandela.
Tutu também criticou o excessivo protagonismo do governante Congresso Nacional Africano (CNA), ao qual pertenceu Madiba, nos eventos de despedida de Mandela, frisando que se tratava de atos de Estado.