Pacientes e familiares em sala de espera no Instituto Nacional de Oncologia e Radiobiologia, em Havana| Foto: Célio Martins/Gazeta do Povo

Entrevista

"Médico de família permite atuar de forma preventiva"

A que se atribui os bons resultados do sistema de saúde de Cuba?

A atenção primária, com prioridade na prevenção, é um dos fatores. Os médicos de família estão mais próximos das pessoas. Isso implica que o médico possa atuar de forma preventiva, diagnosticar mais facilmente. Permite controlar uma série de doenças crônicas. Outro fator é a saúde universal, com atenção para todos, sem distinção de classe, nível social, educacional, orientação política. Há ainda o sistema integrado, englobando o ensino médico, de enfermagem.

Mas existem problemas...

Nenhum país resolveu todos os problemas de saúde. No caso de Cuba a falta de recursos é uma barreira. Grande parte da economia do país vai para o setor de saúde. E tudo fica mais difícil, mais caro, com o embargo econômico dos Estados Unidos. Qualquer equipamento que precisamos e que tenha algum componente norte-americano está proibido de ser vendido para Cuba. Isso encarece, porque temos de buscar em outros países, por terceiros.

Há algo a fazer em conjunto com o Brasil?

Os dois países têm muito a contribuir. Na área de ensino de saúde, por exemplo. A troca de experiências e conhecimentos permitirá ganho aos dois países.

Lorenzo Daniel Llerena Rojas, diretor do Instituto Nacional de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular de Cuba

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Pôr-do-sol no Malecon, point de jovens das classes trabalhadoras na capital cubana
Jovem professor de música em escola primária, ao estilo do jamaicano Bob Marley
Reunião de jovens e adolescentes na orla de Havana no final da tarde
Torcida em dia de clássico de beisebol, a paixão nacional, no Estádio Latinoamericano
Garotas passeiam no final da tarde em avenida de Havana
Casal de namorados curte o pôr-do-sol na tarde de domingo
O jeito descontraído de jovens filhos de famílias de trabalhadores
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O brasileiro que visitar pela primeira vez os centros de atendimento à saúde em Cuba vai observar que as instalações são simples. Em muitos locais as pessoas aguardam atendimento em salas parecidas com as de um posto 24 horas de Curitiba e outras cidades brasileiras.

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INFOGRÁFICO: Veja o porque de Cuba estar acima da média

A diferença básica com o Brasil está no resultado que o sistema de saúde cubano conseguiu. Neste mês, por exemplo, Cuba enviou à ONU relatório sobre a mortalidade infantil em 2012. Depois de mais de meio século de redução, o país fechou o ano passado com taxa de 4,6 mortes no primeiro ano de vida para cada mil nascidos vivos. O Brasil, que conseguiu grandes avanços nos últimos anos, ainda tem uma taxa quase quatro vezes maior, de 16,1 mortes por mil.

As autoridades de saúde da ilha atribuem o bom desempenho ao sistema de atendimento universal gratuito à população e à integração da rede de ensino na formação de profissionais. Cuba tem hoje 1 médico para cada 138 habitantes, superando muitos países desenvolvidos. No Brasil, a proporção é de cerca de 1 médico para cerca de 600 habitantes.

De uma maneira simplificada, pode-se resumir o sistema de saúde cubano em três pilares: primário [médicos de família, consultórios e centros policlínicos], secundário [hospitais gerais, clínicas cirúrgicas e hospitais especializados] e terciário [institutos e centros de investigação].

O médico de família é responsável por acompanhar e fazer o trabalho de prevenção desde os primeiros anos de vida. Nos centros policlínicos a pessoa recebe atendimento primário e é encaminhada para especialistas e hospitais.

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Essa organização permitiu reduzir o tempo de espera para receber atendimento, seja para uma consulta ao clínico-geral ou a um especialista.

"Nossa filosofia é que todo paciente com câncer deve ser tratado em situação de emergência", diz Jesus de Los Santos Renó Céspedes, vice-diretor do Instituto Nacional de Oncologia e Radibiologia. "Do diagnóstico clínico de câncer, biópsia, até o início do tratamento demora-se 15 dias", acrescenta.

As conquistas, como o controle de doenças que provocam grande número de mortes em países da América Latina – o cólera, por exemplo, mata milhares de pessoas nos vizinhos Haiti e República Dominicana – não escondem, no entanto, as limitações do sistema cubano.

"Nenhum país revolveu totalmente os seus problemas de saúde pública", observa Lorenzo Daniel Llerena Rojas, diretor do Instituto Nacional de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular. Ele destaca que, além da carência de recursos para investir em tecnologia, o país enfrenta o bloqueio dos EUA, que impede a compra de equipamentos de ponta e reduz as possibilidades de exportação de vacinas.

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