Investigadores de direitos humanos da ONU disseram nesta segunda-feira (16) que receberam relatos de bombardeios e prisões por forças sírias depois do cessar-fogo, além das execuções de alguns soldados capturados por rebeldes, embora o grau da violência tenha em geral diminuído.
A equipe chefiada pelo especialista brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro disse esperar que a trégua obtida pelo mediador internacional Kofi Annan seja mantida e ajude a pôr um fim às flagrantes violações dos direitos humanos documentada nos últimos seis meses pelos investigadores.
Mas a comissão de inquérito para a Síria, cujo mandato concedido pela Organização das Nações Unidas expira em setembro, reiterou que os autores de atrocidades precisarão ser submetidos à Justiça.
A trégua na Síria entrou em vigor na quinta-feira passada, e a comissão se disse preocupada com relatos de vários incidentes desde então, incluindo bombardeios a vários bairros em Homs e o uso de armas pesadas em outras áreas.
"A comissão também está preocupada com relatos de novas prisões, especialmente em Hama e Aleppo", disse o grupo, sem dar detalhes.
A comissão, que se reporta ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, não recebeu autorização para entrar na Síria, mas entrevistou centenas de refugiados e testemunhas no país e no exterior e examinou vídeos, fotos e alguns documentos governamentais.
"A comissão também continuou a receber relatos de abusos dos direitos humanos cometidos por grupos armados antigoverno envolvidos na luta contra o Exército sírio, durante e após o cessar-fogo, incluindo assassinatos extrajudiciais de soldados capturados durante confrontos armados", afirmou o relatório.
Na segunda-feira, vários soldados com boinas azuis começaram a implantar uma presença da ONU no coração da crise síria, prevendo o sucesso da sua missão para estabilizar um precário cessar-fogo de quatro dias, período em que foguetes continuam sendo disparados.
Pinheiro e a especialista norte-americana que anteriormente dirigiu a UNRWA (agência humanitária da ONU para os palestinos), Karen AbuZayd, conversaram na semana passada com Annan. O terceiro integrante da comissão, Yakin Erturk, abandonou-a, mas a equipe de Pinheiro é auxiliada por 12 investigadores e especialistas.
"As pessoas estão sendo expulsas de bairros inteiros, em vez de individualmente. Parece ser uma nova fase no comportamento dos militares. Em vez de as pessoas serem tomadas como alvo por causa de ações ou por estarem em manifestações, bairros inteiros estão sendo bombardeados no país todo", disse AbuZayd por telefone à Reuters.
"Aldeias inteiras já foram abandonadas, ninguém está lá."