O socialista François Hollande foi eleito presidente da França neste domingo ao derrotar o atual chefe de Estado, o conservador Nicolas Sarkozy, no segundo turno das eleições francesas.
Hollande se converte assim no segundo presidente socialista da V República Francesa, fundada pelo general Charles De Gaulle em 1958, depois de François Mitterrand, chefe de Estado de 1981 a 1995.
Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Hollande afirmou que a "austeridade não deve ser uma fatalidade" entre os diversos governos de uma Europa em crise.
"Hoje mesmo, responsável pelo futuro do nosso país, estou ciente de que toda a Europa nos observa". "Na hora em que o resultado foi anunciado, tive a certeza que em diversos países europeus houve um sentimento de alívio e de esperança, de que, por fim, a austeridade não deve ser mais uma fatalidade", disse Hollande.
"Neste 6 de maio, os franceses escolheram a mudança para me levar à presidência da República" e estou "orgulhoso por ter sido capaz de devolver esta esperança". "Prometo ser o presidente de todos".
"Envio uma saudação republicana a Nicolas Sarkozy, que dirigiu a França durante cinco anos e que por isto merece nosso respeito".
Sarkozy reconheceu a derrota no início da noite e chamou Hollande de "novo presidente" que o "povo francês elegeu de forma democrática e republicana".
O atual chefe de Estado assumiu "toda a responsabilidade pela derrota" e comunicou a seus partidários que não liderará a luta para as eleições legislativas, previstas para 10 e 17 de junho.
"Não se dividam, permaneçam unidos. É preciso vencer a batalha das legislativas. Podemos ganhar. O resultado (deste domingo) foi honroso. Mas não vou liderar esta campanha".
"Minha posição não pode ser a mesma. Meu compromisso com a vida do meu país será diferente agora", disse Sarkozy.
Hollande anunciou que renegociará o pacto fiscal europeu de ajustes e austeridade, elaborado por Sarkozy e pela alemã Angela Merkel, como parte de uma aliança batizada por ele de 'Merkozy', visando o acréscimo de um capítulo de apoio ao crescimento.
A chanceler alemã telefonou para felicitar Hollande por sua vitória e convidá-lo a visitar Berlim, revelou o governo alemão.
"Merkel ligou para cumprimentá-lo pela vitória e ambos acertaram um primeiro encontro e trabalhar juntos para fortalecer a relação franco-alemã em prol da Europa", disse o diretor de campanha do líder socialista francês, Pierre Moscovici.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, afirmou que seu país "vai trabalhar junto" com a França "por um pacto de crescimento para a União Europeia". "Precisamos incrementar novas medidas de crescimento, e isto passa por reformas estruturais".
O primeiro-ministro conservador britânico, David Cameron, também telefonou a Hollande para cumprimentá-lo pela vitória e os dois se disseram "impacientes para trabalhar muito estreitamente e para construir uma relação muito próxima, que já existe entre Grã-Bretanha e França", destacou Downing Street.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, felicitou "calorosamente" Hollande por sua eleição e disse que "claramente temos um objetivo comum: relançar a economia europeia para gerar um crescimento duradouro".
"Pessoalmente e em nome da Comissão Europeia, felicito calorosamente François Hollande por esta importante vitória e lhe envio todos os votos de sucesso". "Os desafios pela frente são numerosos, na França e na União Europeia".
Barroso recordou que compartilha com Hollande "a convicção de que faz falta investir no crescimento e nas grandes redes de infraestrutura, mobilizando de maneira mais forte o Banco Europeu de Investimentos e os fundos disponíveis no orçamento europeu, sempre observando o objetivo de consolidação fiscal e de redução da dívida".
Hollande obteve 51,56% dos votos, contra 48,44% para Nicolas Sarkozy, segundo a apuração oficial sobre 91% das urnas.
A taxa de abstenção foi de 18,86%, abaixo dos 20,52% do primeiro turno, e mais de dois milhões votaram em branco ou nulo.
Hollande venceu com o apoio incondicional do candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon (11,10% dos votos no primeiro turno), da ambientalista Eva Joly (2,31%) e do centrista François Bayrou (9,13%), mas a dirigente da Frente Nacional (FN, extrema direita), Marine Le Pen (quase 18%), defendeu o voto em branco, apesar de criticar Sarkozy com virulência.
Le Pen acusou Sarkozy e seu partido UMP pela vitória da esquerda: "foi Nicolas Sarkozy que permitiu a vitória de François Hollande, foram todos os dirigentes da UMP que não pararam de dizer que votar nos socialistas não seria tão ruim, tão dramático".
Sarkozy passa a engrossar a lista dos líderes políticos vítimas da crise europeia, ao lado do socialista espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, do também socialista português José Socrates e do trabalhista britânico Gordon Brown, que pagaram nas urnas por sua política de austeridade.
A eles se somam o italiano Silvio Berlusconi (direita) e o socialista grego Giorgos Papandreu, forçados a sair por pressão da própria União Europeia.
A campanha na França, como as demais, foi marcada pela crise financeira que castiga duramente países como Espanha, Grécia, Itália e Portugal, e por questões como imigração e segurança nas fronteiras, com claro avanço da extrema direita.