François Hollande foi eleito neste domingo o novo presidente da França, no final de uma longa corrida forjada no aparelho de seu partido e após seguir os passos de seu mentor, François Mitterrand.
Da mesma forma que o grande pai do socialismo moderno francês em 1981, Hollande chega ao Palácio do Eliseu, faltando confirmação oficial definitiva do resultado, como a esperança daqueles que querem dar um golpe de governo ideológico na França, com a substituição do mandato de um Nicolas Sarkozy desgastado pela crise econômica.
"A mudança é agora" foi o slogan eleitoral escolhido por Hollande sob o qual reuniu a maioria dos franceses dispostos a terminar com uma década de governos de direitas e meses após impor-se nas eleições primárias do Partido Socialista (PS), formação que ele mesmo dirigiu entre 1997 e 2008.
Apenas três anos antes, quando abandonou o posto de primeiro-secretário do PS, Hollande era um homem solitário, afastado da primeira linha da política e com poucos seguidores que acreditassem no renascimento do líder.
Durante anos tinha se esforçado para reunir as diferentes sensibilidades políticas de sua formação e tinha alcançado vitórias em escrutínios locais, mas não tinha conseguido um só triunfo socialista nas presidenciais ou nas legislativas em mais de uma década à frente de seu partido.
O golpe final em sua etapa como líder do partido chegou em 2007, quando sua esposa e mãe de seus quatro filhos, Ségolène Royal, perdeu as eleições presidenciais contra Sarkozy.
Separado de Royal e estimulado por sua nova companheira, a quem definiu como a mulher de sua vida, a jornalista Valérie Trierweiler, Hollande se dedicou então a preparar sua corrida rumo ao Palácio do Eliseu, com o apoio da ala mais centrista do Partido Socialista.
Para isso se submeteu a uma grande transformação, física e pessoal. Amante da gastronomia e do futebol, perdeu peso e mudou sua personalidade, de modo que o Hollande brincalhão e irônico abriu passagem para um perfil mais de acordo com a ideia de um presidente da França: sério, tranquilo e "normal", segundo sua própria definição.
Antes mesmo que os escândalos sexuais e judiciais enfraquecessem a candidatura de Dominique Strauss-Kahn, então favorito para se transformar no novo presidente da França, Hollande anunciou sua intenção de ser candidato.
As eleições primárias abertas a todos os simpatizantes de esquerda no outono de 2011, nas quais derrotou outros cinco candidatos - entre eles a própria Royal e Martine Aubry, cabeça do partido -, serviram como plataforma de lançamento de sua candidatura e o ajudaram a embarcar numa onda favorável na pesquisas, da qual não desceu desde então.
Filho de um médico com convicções de extrema direita e de uma trabalhadora social de esquerda, Hollande, agora com 57 anos, chega à presidência apoiado também pela social-democracia europeia, que vê na França o vetor onde recuperar peso político no continente, com eleições à vista na Itália e na Alemanha no próximo ano e meio.
O novo presidente, que estudou direito, política e comércio em prestigiosas instituições como a Science Po de Paris e a Escola Nacional da Administração (ENA), berço da maior parte dos políticos franceses, traçou um programa que aglutina rigor financeiro e políticas de investimento para fomentar o crescimento.
Além disso, prometeu renegociar o tratado europeu de estabilidade fiscal com o objetivo de introduzir mais estímulos públicos.
A isso soma numerosas críticas envenenadas ao mundo das finanças, a quem responsabiliza pela crise, e elogios à juventude, ao professorado e ao serviço público.
Desde então, e à medida que se aproximava das eleições e Sarkozy se escorava na direita, o imperturbável Hollande tomava distância de seu rival também em matéria de imigração, questão que catapultou a extrema direita de Marine Le Pen no primeiro turno do pleito.
Finalmente, o homem em quem quase ninguém apostava há quatro anos, por um afortunado acúmulo de fatores, segundo alguns, e por predestinação e constância, segundo outros, recupera para os socialistas o trono deixado por Mitterrand há 17 anos.
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