Angel Colon sobreviveu ao ataque a boate Pulse, em Orlando| Foto: Drew Angerer/AFP

Jeannette McCoy estava chateada depois de um término de relacionamento ruim e queria se animar com uma noite fora. Então, ela reuniu um grupo de amigos, colocou um salto alto e foi para a boate Pulse, mas a balada que deveria lhe devolver o bom humor transformou-se em uma noite de horror. “Eu só queria sorrir”, conta sobre seus planos para a saída.

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Jeannette, uma personal trainer de 37 anos, tomou um gole de seu drink de vodka com cereja – seu treinador deu permissão para um drink – e passou grande parte da noite dançando música latina. O clube já havia dado uma última chamada e sua amiga Yvens Carrenard também estava pronta para encerrar a noite. Jeannette tinha acabado de dançar com um amigo próximo, Angel Colon. Então, todos ouviram o som dos tiros. “Bum, bum, bum”, ela contou.

Ela estava de costas para a porta por onde Omar Mateen já entrou na boate atirando. Jeannette foi atingida por estilhaços e balas passaram zunindo por seu corpo. Ela se abaixou e tentou se virar, vendo a carnificina no clube. “Eu vi pessoas sendo baleadas, sendo mortas na minha frente”, ela conta. “Eu vi a arma, eu vi o cano e você conseguia ver o brilho das balas saindo”.

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Mateen, ela contou, era silencioso e metódico. “Ele não falava nada, estava apenas atiranado... Ele veio com uma intenção ruim”, ela disse. “Ele estava tentando matar cada pessoa naquela boate”.

Estilhaços continuavam a atingi-la. As pessoas estavam tropeçando e caindo e tudo que ela ouvia eram gritos e tiros. Jeannette só queria encontrar os amigos. “Ninguém era poupado”, ela contou. Ela falou que percebeu imediatamente que o gays e lésbicas estavam no alvo do atirador. “Você sabia que era um tipo de crime de ódio. Você percebia que aquele homem estava lá tentando matar cada um de nós”, contou.

Yvens, que estava encostado em uma parede quando o tiroteio começou, se escondeu em uma pequena porta no bar. Ele e outras cinco pessoas entraram naquele cubículo, inclusive um homem que foi atingido na perna. Jeannette, na pista de dança, viu Mateen caminhando em sua direção, se aproximando de onde ela e os amigos estavam em um círculo.

“As pessoas ao meu redor estavam sendo baleadas. Na minha cabeça, eu fiquei pensando ‘eu vou ser atingida, mas independentemente disso, eu preciso sair’”, ela contou. Ela saiu correndo, pulando e passando por cerca de 20 pessoas que estavam caídas no chão da boate. Ela fez isso até chegar ao lado de fora.

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Jeannette não tinha certeza se havia sido baleada. Rapidamente ela percebeu que escapou ilesa. Ela viu um homem que foi atingido na perna. Ela tirou a própria blusa e usou como torniquete. Uma mulher que foi atingida por um tiro no braço estava claramente em estado de choque. Jeannette fez pressão sob a ferida e explicou para a mulher que a bala não havia atingido nenhum órgão.

Telefones estavam tocando e as notificações de mensagens de texto não paravam de chegar: eram pessoas procurando por amigos ou querendo tranquilizar a família. Uma parede de madeira foi quebrada por cidadãos, permitindo uma rota de fuga para o pátio.

Jeannette soube que seu amigo Angel Colon foi atingido por um disparo. Ele estava exatamente na frente dela quando o tiroteio começou. “A única razão para eu não estar morta é porque a bala parou nas costas dele. Se não tivesse, provavelmente estava nas minhas costas”, desabafou.

Kyle Moore estava pagando a conta na Pulse quando escapou para o pátio, onde seu amigo Dorian Wayne já estava. Os dois contam que ouviram uma sequência de tiros e as pessoas começaram a correr por eles. Os homens ainda contaram que a polícia atendeu prontamente, chegando em minutos, e que o tiroteio durou cerca de uma hora. As autoridades dizem que Mateen chamou o 911, o número de emergência, e a situação se transformou em uma negociação com reféns.

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Enquanto Jeannette esperava por notícias dos amigos do lado de fora, ela ficou furiosa com a polícia de Orlando. “Eu estava enlouquecendo com os policiais”, relatou. Ela pedia que eles entrassem na boate e resgatassem as pessoas que haviam sido baleadas.

Yvens Carrenard e Angel Colon permaneciam dentro da boate. Yvens e outras pessoas subiram uma escada e se esconderam em uma pequena sala. Ele estava pensando: “eu não posso morrer hoje. Não desse jeito”. Ele chamou o 911 e contou para a atendente onde eles estavam escondidos. O tiroteio continuou.

“Eu podia ouvir pessoas gritando por socorro. Eu conseguia ouvir pessoas gemendo”. Ele contou que Mateen voltou e retomou os disparos. “Ele voltou para atirar nas pessoas de novo, e então você não ouvia mais nada”, ele contou. Angel Colon foi atingido por três vezes na primeira onda de tiros. Matten ainda atirou mais duas vezes quando ele já estava caído no chão da Pulse, contou Jeannette.

Do lado de fora, Wayne e Morre esperavam na calçada e mandaram uma mensagem para um amigo, que estava escondido no banheiro. “Nosso amigo no banheiro contou que Mateen tinha uma coisa racial”, Moore relatou. “Ele estava dizendo, ‘eu não tenho problema com pessoas negras’”. Seus amigos disseram que uma mulher no banheiro inicialmente escapou de ser atingida por dizer “eu sou negra! Não atire em mim”. A mãe de um homem que estava escondido no banheiro também foi ao local e continuava em contato com o filho.

Em algum momento entre 4h30 e 5h, o amigo de Moore e Wayne disse que Mateen ouviu a polícia pedir para os reféns se afastarem da parede, porque eles iriam arrebentá-la. O amigo escreveu uma mensagem e pediu para os dois falarem para a polícia se apressar, porque Mateen voltou para o banheiro para matar pessoas – inclusive a mulher que ele poupou antes – depois de ouvir que a polícia estaria ali em breve.

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Eles não conseguiam suportar a ideia de contar para aquela mãe que eles falaram com o filho dela naquela noite. “Eu não queria contar para ela”, Moore disse. Ele não conseguia encontrar as palavras. Os homens ouviram a ‘explosão controlada’. O tempo era a única coisa que poderia salvar o amigo. E ele conseguiu sair.

Yvens ouviu a polícia gritar “time da SWAT” e mandar as pessoas saírem com as mãos erguidas. O grupo lentamente abriu a porta, viu a polícia e ergueu as mãos. “Eu estava olhando para os corpos quando estava saindo, porque eu não queria que nenhum deles fossem dos meus amigos”, ele disse. Todos os amigos de Jeannette sobreviveram. “Eu disse para Angel: ‘você é meu anjo porque, para mim, eu seria baleada’”, ela contou, entre lágrimas. Ele permanece internado no hospital.

Jeannette disse que se ela deveria buscar autorização para portar armas. Ela não tem certeza se teria levado a arma para o clube, mas, se tivesse, certamente teria tentado atirar em Mateen. As horas desde que o tiroteio começou foram como um pesadelo para Jeannette. Ela continuava apavorada e se certificava de que as portas e janelas de sua casa estavam trancadas na noite de domingo. Ela não conseguia dormir. Na noite de segunda-feira (13), um grupo de amigos foi até lá para fazer companhia. Ela estava com sua pistola .40 guardada em um core, mas não tinha nenhuma bala para a arma.

O seu carro ainda está no estacionamento do clube. Ela quase foi andando para casa na manhã de domingo, mas encontrou uma carona. Ela estava usando apenas o sutiã e calças. Ela chegou em casa às seis da manhã. Exausta, ela tomou um banho. “Eu olhava para todo aquele sangue em mim e não era o meu sangue. Era sangue das vítimas. Levou um minuto para eu me limpar, mas ficava pensando. ‘de quem pode ser esse sangue?’, ‘será que estão vivos?’”, ela contou em prantos.

“Você tem o sangue de outra pessoa em si mesmo e você apenas olha para o sangue. Você apenas olha para isso. É o sangue de outra pessoa. Não é meu. Por que não é meu? Como eu fui embora viva?”.

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Pessoas se agrupam em frente a memorial montado no Centro de Artes Performáticas Dr. Phillips, em Orlando (EUA), em memória às vítimas do atentado na cidade.
Pessoas rezam juntas em frente a memorial montado no Centro de Artes Performáticas Dr. Phillips, em Orlando (EUA), em memória às vítimas do atentado na cidade.
Um homem reza em frente a memorial montado no Centro de Artes Performáticas Dr. Phillips, em Orlando (EUA), em memória às vítimas do atentado na cidade.
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Um homem reza em frente a memorial montado no Centro de Artes Performáticas Dr. Phillips,
Mulheres participam de momento de silêncio em vigília no Centro de Artes Performáticas Dr. Phillips, em Orlando (EUA), em memória às vítimas do atentado na cidade.
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Pessoas fazem vigília em Orlando, local do ataque à boate Pulse.
Pessoas soltam lanterna em memorial em Orlando.
Pessoas seguram velas ao alto em vígila em Orlando.
Lanterna voa em frente a hotel iluminado com as cores do arco íris em Orlando.
Pessoas seguram velas durante memorial para as vítimas do ataque à boate Pulse.
Em Nova York, pessoas se reúnem em vigília.
Pessoas formam multidão em Orlando, durante cerimônia de homenagem às vítimas.