A capital de Cuba, Havana: apesar da aproximação entre os dois países, Estados Unidos condenam repressão por parte do governo cubano.| Foto: Enrique de la Osa/ Reuters

Apesar da aproximação entre os dois países, os Estados Unidos denunciaram que Cuba teve em 2014 quase 9 mil detenções “arbitrárias e de curto prazo”, o número mais alto nos últimos cinco anos, e persistiu em sua intimidação à dissidência pacífica e na restrição da liberdade de imprensa.

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Em seu relatório anual sobre os direitos humanos no mundo, enviado na semana passada ao Congresso, o Departamento de Estado americano voltou a incluir Cuba em sua lista de países do mundo que registram as violações mais graves das liberdades fundamentais, apesar do momento de aproximação entre os dois governos.

Muçulmanos

A crescente brutalidade de grupos muçulmanos como Estado Islâmico (EI) e Boko Haram foi a tendência mais preocupante para os direitos humanos no mundo em 2014, segundo o relatório anual d o Departamento de Estado dos EUA. O documento diz ainda que o sistema da Rússia é “cada vez mais autoritário” e condena a “repressão” de opositores na China e na Venezuela.

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“A sociedade civil contabilizou o número mais alto de detenções arbitrárias, de curto prazo, nos últimos cinco anos, com quase 9 mil”, indica o documento. “Segundo os relatórios, o governo cubano usou ameaças, ataques físicos, intimidação, contramanifestações violentas organizadas pelo governo contra a dissidência pacífica, assédio e detenções para restringir os direitos de expressão e assembleia”, acrescenta.

Embora o relatório examine todo o ano de 2014 e o anúncio da normalização das relações entre EUA e Cuba não tenha acontecido até dezembro, o Departamento de Estado assinala alguns passos que o governo cubano deu desde que aconteceu a mudança de política bilateral e que poderiam representar avanços.

Em primeiro lugar, cita a libertação, no início deste ano, de “53 indivíduos” que os Estados Unidos e “outros na comunidade internacional consideramos prisioneiros políticos”, e um sinal do governo cubano que tem “vontade de permitir um maior acesso da ONU e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha”.

“Relacionar-se com Cuba não é o mesmo que respaldá-la, isso deveria estar claro. A situação tem que melhorar muito.”

Tom Malinowski, secretário de Estado adjunto dos Estados Unidos para Direitos Humanos,

Além disso, destaca que no final do ano passado o governo cubano aceitou “considerar um aumento do investimento em telecomunicações na ilha, o que abre a possibilidade de um maior acesso à internet no futuro”.

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No entanto, ao longo de 2014, “o governo seguiu bloqueando o acesso de seus cidadãos à informação sem censura e independente, restringindo de forma grave a disponibilidade da internet, e bloqueando certos blogs e sites”.

Negociações tensas

As denúncias sobre a situação de direitos humanos em Cuba se transformaram no ponto mais tenso na negociação para normalizar as relações diplomáticas, rompidas desde 1961.

A expectativa é que ambos governos anunciem nas próximas semanas a abertura de embaixadas nas respectivas capitais, mas ficará pela frente um processo mais longo de normalização completa dos laços que inclui um diálogo específico sobre o tema de direitos humanos, iniciado em março em Washington.

“Relacionar-se com Cuba não é o mesmo que respaldá-la, isso deveria estar claro”, disse o secretário de Estado adjunto dos EUA para Direitos Humanos, Tom Malinowski. “A situação tem que melhorar muito (na ilha), mas (com a normalização) eliminamos a capacidade dos cubanos de eximir-se dizendo que a culpa de seus problemas era dos EUA”, acrescentou.

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O relatório cita entre os principais abusos a “redução da capacidade dos cidadãos de mudar o governo”, o “uso de ataques físicos extrajudiciários e intimidação” contra os dissidentes, as “duras condições nas prisões” e a “negação de julgamentos justos”.

“O governo manteve um monopólio nos meios de comunicação, circunscreveu a liberdade acadêmica e manteve certas restrições na capacidade de grupos religiosos de reunir-se”, diz ainda o documento. Além disso, segundo os EUA, o Executivo de Raúl Castro “se negou a reconhecer grupos de direitos humanos independentes” para que operem legalmente na ilha.