Enquanto os ucranianos ouviam nesta quarta-feira (26) os nomes de seu próximo governo interino na Praça da Independência, Ocidente e Rússia iniciaram movimentos de pressão para mostrar seu interesse pelo país estratégico da Ásia Central. O secretário de Estado Jonh Kerry fez uma oferta de US$ 1 bilhão para ajudar o país endividado, mas grandes bancos russos suspenderam novos empréstimos num sinal de ameaça à frágil economia de Kiev. O Exército russo na fronteira com a Ucrânia aumentou seu estado de alerta.
Kerry afirmou que Washington considerava emprestar US$ 1 bilhão para a Ucrânia e disse que a uma possível intervenção militar russa no país seria um "grave erro".
"Para um país que fala com tanta frequência contra a intervenção na Líbia, na Síria e em outros lugares, seria bom para eles se manterem atentos a esses avisos enquanto cogitam ações na nação soberana da Ucrânia", disse o americano sobre os russos.
Aliada de Kerry na disputa pela influência na Ucrânia, a chefe da política externa da União Europeia, Catherine Ashton, passou os últimos dois dias em Kiev oferecendo apoio, mas não prometeu cifras específicas. Líderes ucranianos afirmam precisar de US$ 35 bilhões em ajuda e empréstimos nos próximos dois anos - o que inclui dinheiro para pagar salários. A União Europeia, ainda se recuperando da crise econômica de 2008, pode não ter a capacidade econômica de oferecer tais condições. O bloco também declarou há semanas que não entraria num leilão por Kiev.
A ofensiva econômica de Moscou, porém, pode piorar ainda mais a situação econômica. Após a crise de 2008, vários bancos europeus se retiraram da Ucrânia e os russos mantiveram seus investimentos. Vladimir Putin, o presidente da Rússia, afirmou que os bancos do país tem US$ 28 bilhões expostos no país.
O ministro da Defesa russo afirmou que a Frota do Mar Negro entrou em alerta dois para "garantir a segurança" das instalações militares do país na Crimeia, região ucraniana de língua russa.
Dois importantes bancos russos credores do país, VTB e Sberbank, anunciaram nesta quarta-feira que novos empréstimos a Kiev estão suspensos, aumentando a pressão econômica sobre a Ucrânia. Enquanto Viktor Yanukovich ainda era presidente, os russos prometeram US$ 15 bilhões em ajuda.
Novos líderes pró-Europa e anti-Rússia
As anúncios financeiros ocorrem num dia em que os opositores que derrubaram o agora internacionalmente procurado Yanukovich anunciavam como líderes do governo interino membros do partido de Yulia Tymoshenko, ex-premier e líder do movimento pró-Europa batizado de Revolução Laranja.
O Conselho de Maidan, que reúne líderes políticos dos protestos, da sociedade civil e de grupos radicais, anunciou como primeiro-ministro o pró-europeu Arseni Yatseniuk. Na quinta-feira os nomes anunciados na Praça da Independência devem ser aprovados pelo Parlamento.
Yatseniuk deve liderar o governo que comandará o país até as eleições de 25 de maio. Além de membro do partido de Tymoshenko, o premier indicado já foi ministro da Economia e de Relações Exteriores e teve papel de destaque nos protestos. Além de figuras ligadas a Tymoshenko - que saiu da cadeia no sábado - o Gabinete proposto inclui ativistas dos direitos civis.
Pela manhã, o arame farpado foi removido do Parlamento e o Ministério do Interior interino anunciou que forças especiais antidistúrbios, os Berkut (Águia), foram dissolvidas. O presidente interino Oleksander Turchinov assumiu ainda as funções de comandante das Forças Armadas.