O governo norte-americano viu na estratégia brasileira de reforçar suas capacidades militares um modo de "apoiar os interesses dos Estados Unidos", revelam telegramas diplomáticos vazados pelo site WikiLeaks. Apesar disso, o documento faz ressalvas à ideia de o Brasil almejar um submarino nuclear, qualificando-a como um "elefante branco". Atualmente, os EUA são o único país da região com submarinos nucleares, capazes de passar longos períodos submersos.
O despacho da diplomacia norte-americana faz ressalvas diante de "sérias questões" em torno da estratégia brasileira, entre elas a intenção de o país possuir um submarino nuclear e do apoio do governo à indústria de Defesa. Essas iniciativas são consideradas "não competitivas", capazes, na opinião dos funcionários norte-americanos, de causar "buracos negros" e de "sugar todos os recursos disponíveis".
O documento, enviado em janeiro de 2009 pela embaixada norte-americana ao Departamento de Estado, é firmado pelo então embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel. Apesar das ressalvas, o texto afirma que a nova estratégia brasileira de Defesa "levará o Brasil a tornar-se um parceiro mais efetivo" no setor de segurança. A Estratégia Nacional de Defesa foi lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim de 2008.
O documento norte-americano nota que a estratégia poderia tornar as Forças Armadas brasileiras mais capazes de "apoiar os interesses dos EUA em exportar estabilidade para a América Latina e estar disponíveis para a manutenção de paz em outros locais".
O texto confidencial firmado por Sobel afirma que a intenção do Brasil de monitorar a Floresta Amazônica "cria oportunidades" para o setor de negócios dos EUA e para as Forças Armadas norte-americanas ampliarem a cooperação. O diplomata notou as oportunidades para "parcerias estratégicas primariamente em termos de comércio de defesa e transferência de tecnologia", mas ressaltou a possibilidade de "cooperação de segurança real em áreas de interesse mútuo".
Sobel também notou, porém, certa frieza do governo Lula reservada para os EUA, dizendo que esse vínculo com o Brasil "apenas aumentará gradualmente, particularmente enquanto o atual governo estiver no poder".
O Brasil já firmou um contrato para comprar cinco submarinos Scorpène da França, um dos quais receberá um motor nuclear. O país deve ainda anunciar em breve o vencedor de uma licitação para a compra de uma frota de sofisticados caças. Os competidores pelo contrato, que pode superar os US$ 7 bilhões, são a norte-americana Boeing, que oferece modelos F-18, a francesa Dassault, com o modelo Rafale, e a sueca Saab, com os Gripen NG. As informações são da Dow Jones.
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