Londres - O temor causado pelas explosões na usina de Fukushima, no Japão, teve novas consequências ontem na Europa. A Alemanha decidiu fechar temporariamente 7 de seus 17 reatores. Já a União Europeia promete fazer um teste de estresse nas 147 usinas nucleares existentes em 13 dos 27 países do bloco.
O comissário europeu de Energia, Günther Öttinger, avaliou a situação na central de Fukushima como "fora de controle. "Há quem fale de apocalipse, e a palavra me parece muito apropriada.
Na segunda-feira, a chanceler (premier) alemã, Angela Merkel, havia anunciado o fechamento temporário de duas usinas, mas ampliou a medida para mais cinco. Todas foram construídas antes de 1980.
Elas ficarão fechadas pelo menos por três meses, período em que haverá uma avaliação dos riscos que oferecem à população. Trata-se de uma mudança radical na política energética do país. Merkel, que tem doutorado em física, sempre foi considerada pró-usinas.
No ano passado, seu governo estendeu a vida útil das usinas do país em média por 12 anos além da data limite definida pelo governo anterior (2021). Agora, essa ampliação da "sobrevida também está suspensa até que sejam feitos testes de segurança. Foi também um "teste de estresse que foi definido ontem pela União Europeia. A intenção do "teste de estresse é saber se as 147 usinas do continente são seguras contra terremotos, outros desastres naturais e até atentados terroristas.
Ainda serão definidos os critérios para a avaliação, que deve ocorrer no segundo semestre.
A França, onde 75% da energia elétrica consumida vem de usinas nucleares, também determinou que sejam feitas avaliações em todos seus 58 reatores. Mas o país descarta abandonar a energia nuclear, que é mais barata e menos poluente que a geração por termoelétricas, por exemplo.
Na Itália, que hoje não usa energia atômica, o governo anunciou que manterá seu programa nuclear. O país faz em junho um referendo para saber se a população aprova a construção de usinas.
Na Espanha, os ecologistas convocaram uma manifestação para quinta. Vão pedir ao governo que feche todas as seis usinas do país.
Obama
Nos EUA, porém, o presidente Barack Obama defendeu a energia nuclear como uma importante fonte energética no país. A uma tevê de Pittsburgh, Obama disse que as usinas norte-americanas são monitoradas e feitas para aguentar "certos impactos de terremotos.
A Casa Branca disse na segunda-feira que Obama segue comprometido em usar a energia nuclear como parte do pacote energético do país, apesar das preocupações com segurança. A alternativa nuclear é parte integral da iniciativa de Obama de incentivar a energia limpa no país para reduzir a dependência norte-americana do petróleo e do carvão.
Onda de boatos na internet
Uma onda de boatos sobre o vazamento radioativo da usina japonesa de Fukushima, no Japão, provocou pânico em países da Ásia e obrigou o governo das Filipinas a negar oficialmente que haja risco de contaminação fora das fronteiras japonesas.
Num deles, um SMS (mensagem de texto via celular) falsamente atribuído à rede britânica BBC pedia que os asiáticos tivessem "cuidados extras" e não saíssem na chuva, porque ela poderia conter "partículas radioativas".
O falso texto da BBC também dizia que a radiação chegaria às Filipinas às 16 h de ontem, o que, segundo relatos na mídia filipina, fez escolas mandarem crianças de volta para casa até que o governo desmentisse os boatos.
A BBC negou ter enviado o SMS e advertiu que em tragédias como a do Japão cresce muito a circulação de e-mails e textos falsos na internet.
Clima
Sites internacionais de meteorologia indicam previsão de neve e de chuva na região de Fukushima nos próximos dias. As condições climáticas pioram os riscos de contaminação radioativa.
Isso porque as partículas radioativas que foram expelidas para a atmosfera após as explosões das estruturas de três reatores da usina Fukushima 1, com neve e chuva, irão diretamente para o solo.
"Neve e chuva lavam a atmosfera e levam as partículas radioativas para o chão, explica Hilton Silveira, diretor-associado do Centro de Pesquisas Meteorológicas Aplicadas à Agricultura) da Universidade Estadual de Campinas.