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Ativistas usam máscaras durante protesto contra energia nuclear na cidade de Manila, capital das Filipinas. Governos de todo o mundo começam a rever projetos nucleares | Ted Aljibe/AFP
Ativistas usam máscaras durante protesto contra energia nuclear na cidade de Manila, capital das Filipinas. Governos de todo o mundo começam a rever projetos nucleares| Foto: Ted Aljibe/AFP

Acidente

Novo incêndio atinge reator de Fukushima

O reator número quatro da usina nuclear de Fukushima voltou a ser atingido por um incêndio, às 5h45 (17h45 de ontem em Brasília), segundo informações da Tokyo Electric Power Co. (Tepco). O fogo começou na mesma parte do reator que havia sido atingida por um incêndio ontem cedo.

Até às 22 horas ainda não se sabia o que provocou o surgimento das chamas, mas um representante da Tepco disse que já estavam em andamento os procedimentos para apagar o incêndio.

A usina nuclear de Fukushima possui seis reatores. No sábado, houve uma explosão no reator 1, seguida por uma explosão no reator 3 na segunda-feira. Ontem, o reator 2 também foi danificado por uma explosão e o reator 4 foi atingido por um incêndio. (Veja no infográfico ao lado)

ONU

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU), Yukiya Amano, disse ontem que um dano limitado pode ter ocorrido no núcleo do reator 2 da usina de Fukushima. Ele afirmou que as notícias são preocupantes, e que existe "a possibilidade de danos ao núcleo" depois da explosão no reator 2.

Amano, que é japonês, estimou que o problema pode ter afetado 5% do combustível nuclear. Segundo ele, é possível que tenha havido também danos na parte inferior do vaso de contenção primária, mas que isso não foi confirmado. "É uma rachadura? É um buraco? Não é nada? Isso não sabemos ainda", afirmou Amano.

O diretor da AIEA disse que a situação é preocupante, mas aparentemente é bem diferente do desastre de Chernobyl, em 1986. Ainda assim, afirmou que esperava receber informações mais atualizadas e detalhadas.

A agência planeja enviar uma pequena equipe de peritos ao Japão, possivelmente para ajudar no monitoramento ambiental.

  • Veja como funciona o sistema de resfriamento da usina de Fukushima

Londres - O temor causado pelas explosões na usina de Fukushima, no Japão, teve novas consequências ontem na Europa. A Alemanha decidiu fechar temporariamente 7 de seus 17 reatores. Já a U­­ni­­ão Europeia promete fazer um teste de estresse nas 147 usinas nu­­cleares existentes em 13 dos 27 países do bloco.

O comissário europeu de Energia, Günther Öttinger, avaliou a situação na central de Fukushima como "fora de controle’’. "Há quem fale de apocali­­pse, e a palavra me parece muito apropriada.’’

Na segunda-feira, a chanceler (premier) alemã, Angela Merkel, havia anunciado o fechamento temporário de duas usinas, mas ampliou a medida para mais cinco. Todas foram construídas antes de 1980.

Elas ficarão fechadas pelo menos por três meses, período em que haverá uma avaliação dos riscos que oferecem à população. Trata-se de uma mudança radical na política energética do país. Merkel, que tem doutorado em física, sempre foi considerada pró-usinas.

No ano passado, seu governo estendeu a vida útil das usinas do país em média por 12 anos além da data limite definida pelo governo anterior (2021). Agora, essa ampliação da "sobrevida’’ também está suspensa até que sejam feitos testes de segurança. Foi também um "teste de estresse’’ que foi definido ontem pela União Europeia. A intenção do "teste de estresse’’ é saber se as 147 usinas do continente são se­­gu­­ras contra terremotos, outros desastres naturais e até atentados terroristas.

Ainda serão definidos os critérios para a avaliação, que deve ocorrer no segundo semestre.

A França, onde 75% da energia elétrica consumida vem de usinas nucleares, também determinou que sejam feitas avaliações em todos seus 58 reatores. Mas o país descarta abandonar a energia nuclear, que é mais barata e menos poluente que a geração por termoelétricas, por exem­­plo.

Na Itália, que hoje não usa energia atômica, o governo anunciou que manterá seu programa nuclear. O país faz em junho um referendo para saber se a população aprova a construção de usinas.

Na Espanha, os ecologistas convocaram uma manifestação para quinta. Vão pedir ao governo que feche todas as seis usinas do país.

Obama

Nos EUA, porém, o presidente Barack Obama defendeu a energia nuclear como uma importante fonte energética no país. A uma tevê de Pittsburgh, Obama disse que as usinas norte-americanas são monitoradas e feitas para aguentar "certos impactos’’ de terremotos.

A Casa Branca disse na segunda-feira que Obama segue comprometido em usar a energia nuclear como parte do pacote energético do país, apesar das preocupações com segurança. A alternativa nuclear é parte integral da iniciativa de Obama de incentivar a energia limpa no país para reduzir a dependência norte-americana do petróleo e do carvão.

Onda de boatos na internet

Uma onda de boatos sobre o vazamento radioativo da usina japonesa de Fukushima, no Ja­­pão, provocou pânico em países da Ásia e obrigou o governo das Filipinas a negar oficialmente que haja risco de contaminação fora das fronteiras japonesas.

Num deles, um SMS (mensagem de texto via celular) falsamente atribuído à rede britânica BBC pedia que os asiáticos tivessem "cuidados extras" e não saíssem na chuva, porque ela poderia conter "partículas radioativas".

O falso texto da BBC também dizia que a radiação chegaria às Filipinas às 16 h de ontem, o que, segundo relatos na mídia filipina, fez escolas mandarem crianças de volta para casa até que o governo desmentisse os boatos.

A BBC negou ter enviado o SMS e advertiu que em tragédias como a do Japão cresce muito a circulação de e-mails e textos falsos na internet.

Clima

Sites internacionais de meteorologia indicam previsão de neve e de chuva na região de Fukushima nos próximos dias. As condições climáticas pioram os riscos de contaminação radioativa.

Isso porque as partículas radioativas que foram expelidas para a atmosfera após as explosões das estruturas de três reatores da usina Fukushima 1, com neve e chuva, irão diretamente para o solo.

"Neve e chuva lavam a atmosfera e levam as partículas radioativas para o chão’’, explica Hilton Sil­­veira, diretor-associado do Centro de Pesquisas Meteorológicas Apli­­cadas à Agricultura) da Uni­­ver­­sidade Estadual de Cam­­pinas.

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