A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, já mandou o recado: a prisão do francês Dominique Strauss-Kahn não significa o fim do monopólio europeu na direção-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Sabemos que os países em desenvolvimento têm uma reivindicação de assumir as presidências do FMI e do Banco Mundial, mas no atual momento [de crise na zona do euro], há boas razões para a Europa ter bons candidatos à disposição, afirmou.
Todos os dez presidentes do FMI, desde sua criação, em 1946, foram europeus.
Isso faz parte de uma espécie de divisão do mundo após a Segunda Guerra Mundial. A Europa ficou com o FMI, os EUA, com o Banco Mundial.
"Seria preferível que nós [europeus] continuássemos com esse posto no futuro, disse Didier Reynders, ministro da Finanças da Bélgica, um dos poucos a querer falar sobre o assunto.
Por meio de uma porta-voz, a Comissão Europeia disse que o continente irá ter um candidato para suceder Strauss-Kahn.
A divisão entre Europa e EUA tem sido contestada por países como China, Brasil e Índia, que afirmam que ela não faz mais sentido.
Foi-se o tempo em que esses países eram apenas receptores de empréstimos do fundo. Hoje, são contribuintes, e é a Europa (Grécia, Irlanda e agora Portugal) que necessita do dinheiro.
Já foram levantados os nomes de Christine Lagarde, ministra das Finanças da França, que, se eleita, seria a primeira mulher no cargo, e de Gordon Brown, ex-primeiro-ministro britânico. Mas Brown não tem o apoio do atual primeiro-ministro, David Cameron.
Preocupação
De fora do continente europeu, aparecem candidatos da Índia, Egito, África do Sul, Israel e México.
Para analistas, a principal preocupação é como ficam as negociações sobre a crise na Europa. Bessma Momani, professora da Universidade Waterloo (Canadá) especialista em assuntos do Fundo, diz que o francês teve um envolvimento pessoal nas discussões sobre a crise fiscal e que a saída dele pode ser prejudicial para alguns países. "A instituição vai continuar e, em algum momento, vai entrar um novo diretor-gerente que recuperará a credibilidade da organização, diz Momani.
Já Morris Goldstein, que trabalhou no Fundo de 1987 a 1994 e hoje é analista do Peterson Institute, diz que, se Strauss-Kahn for considerado culpado, isso afetará a credibilidade do organismo, mas que ainda é cedo para avaliar.