Forças de segurança egípcias e homens armados trocaram tiros quando policiais tentaram invadir uma mesquita no Cairo usada por cerca de mil partidários do presidente deposto Mohamed Mursi como abrigo na madrugada deste sábado (17). Dezenas de pessoas permanecem na mesquita, recusando-se a acreditar promessa de uma saída segura. Segundo a agências de notícias AFP, militares dispararam contra o edifício depois que foram alvejados por tiros vindos do interior da mesquita.
Segundo testemunhas, a troca de tiros entre os apoiadores de Mursi e as forças de segurança também acontece dentro da mesquita al-Fatah, na Praça Ramsés, que se transformara em um hospital de campanha e necrotério na sexta-feira durante confrontos violentos na área. De acordo com a agência France Presse, a polícia conseguiu arrastar vários homens para fora do prédio na confusão. Esses homens foram então confrontados por moradores do bairro que os atacaram com paus e barras de ferro.
Waleed Attar estava entre um grupo que conseguiu escapar do prédio quando a troca de tiros começou. "Nós não sabíamos de onde as balas vinham. Até mesmo as forças de segurança se abrigaram. Os pistoleiros estavam à paisana", disse à al-Jazeera.
Enquanto isso, o primeiro-ministro interino, Hazem el-Beblawi propôs dissolver legalmente a Irmandade Muçulmana, e o governo está estudando a ideia, disse o porta-voz Sharif Shawky. Beblawi fez a proposta ao ministro de Assuntos Sociais - Ministério responsável por licenciar entidades não governamentais.
"Nenhuma reconciliação será concluída com aqueles cujas mãos estão manchadas de sangue. Nenhuma reconciliação pode ser celebrada com alguns direcionando armas para civis", afirmou Beblawi, acrescentando que as mortes de sexta-feira são decorrentes de confrontos entre moradores e manifestantes.
A Irmandade foi dissolvida pelo regime militar do Egito em 1954, mas se registrou como uma organização não governamental em março, em resposta a um processo legal movido por opositores do grupo que contestavam sua legalidade.
Mais cedo, a polícia de choque montou guarda do lado de fora da mesquita al-Fatah. Enquanto tanques protegiam a entrada dos fundos da mesquita , alguns agentes entraram no edifício para tentar convencer os manifestantes a deixarem o local. Um pequeno grupo de mulheres foi o primeiro a sair, escoltado por policiais.
Nesta manhã, no momento em que aproximadamente 30 pessoas deixavam a mesquita sob a custódia dos soldados governamentais, opositores de Mursi tentaram agredir e pressionar o grupo.
Manifestantes disseram à BBC há dois corpos dentro da mesquita - um delas de uma mulher que morreu após o disparo de bombas de gás lacrimogêneo durante a noite e outro de um homem levado para dentro do prédio após sofrer ferimentos de bala. Eles disseram que os manifestantes têm água potável, mas há apenas um banheiro.
O cerco acontece quando simpatizantes de Mursi preparam novas manifestações, aumentando a probabilidade de mais violência. Autoridades egípcias anunciaram ter prendido 1.004 "elementos da Irmandade Muçulmana", o mais poderoso movimento islâmico do Egito, sendo 558 no Cairo. Em comunicado, o ministério citado apontou que as detenções estão sendo realizadas em todas as províncias durante as operações para fazer frente às "tentativas terroristas de elementos da Irmandade Muçulmana, que deseja empurrar o país para um ciclo de violência".
Uma nova contagem do Ministério da Saúde afirma que o número de civis mortos na sexta-feira chega a 173, sendo 95 no Cairo, o que elevaria o total de vítimas desde quarta-feira para cerca de 750.
Entre os mortos, está Ammar Badie, filho do líder religioso da Irmandade Muçulmana Mohammed Badie. Ele foi morto após ser baleado enquanto participada de protestos na Praça Ramsés. Ele havia sido indiciado por incitação de violência e participaria do julgamento que será iniciado em 25 de agosto.