O presidente da estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), Santos Ramírez, disse nesta quarta-feira (10) que a exportação de gás natural da Bolívia para o Brasil será reduzida em 3 milhões de metros cúbicos -ou 10% dos atuais 30 milhões que são exportados por dia por causa da explosão de um gasoduto no departamento (estado) de Tarija, no sul da Bolívia.
Segundo o governo, a explosão foi provocada em um atentado terrorista atribuido 'aos opositores do presidente Evo Morales', que promovem uma série de atos contra o governo ao longo das três últimas semanas.
Santos Ramírez atribuiu o atentado a grupos de "paramilitares, fascistas e terroristas", supostamente organizados pelas forças opositoras.
O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, anunciou nesta quarta que o governo vai aumentar a presença militar nas instalações petroleiras, ocupadas por grupos ligados à oposição, para evitar "novos atentados criminosos".
Segundo a assessoria de imprensa da companhia, o reparo da tubulação afetada deve levar entre 10 e 15 dias e deve custar US$ 100 milhões. A interrupção do fornecimento deve provocar prejuízo diário de US$ 8 milhões à YPFB, de acordo com a assessoria.
De acordo com fontes do setor de energia, a explosão teria ocorrido em um tubo de 32 polegadas entre os campos de San Alberto e San Antonio, de onde sai a maior parte do gás consumido em São Paulo, que é o maior mercado do gás boliviano.
A Comgás (Companhia de Gás de São Paulo), responsável pelo abastecimento no estado em São Paulo, disse que a situação está normal e que nenhum cliente corre o risco de sofrer interrupção no abastecimento.
O senador boliviano Andrés Guzmán (de Pando) disse em entrevista à Globo News (assista ao vídeo abaixo) que o fornecimento para o Brasil não está ameaçado.
Os manifestantes também ocuparam, de maneira não violenta, a indústria petrolífera da empresa Chaco e fecharam as válvulas de bombeamento, disse o gerente de Relações Institucionais da empresa, Juan Callaú.
"Suspendemos as operações em Vuelta Grande", declarou Callaú em referência à planta localizada na região de Chacho, departamento de Chuquisaca, onde ocorrem os bloqueios de estradas e ameaças de corte no fornecimento de gás, há 15 dias. Vuelta Grande produz diariamente 83 milhões de pés cúbicos de gás (2,3 milhões de m³), dos quais entre 1 milhão e 1,5 milhão de metros cúbicos são exportados para a Argentina e o restante vai para o Brasil.
Tensão cresce
O governo da Bolívia acusou nesta quarta os grupos cívicos de direita da rica região de Santa Cruz de buscar um confronto com militares e policiais para desencadear uma "espécie de guerra civil", após os distúrbios dos últimos dias em quatro departamentos pró-oposição.
Grupos civis invadiram e saquearam na terça pelo menos cinco edifícios públicos e atacaram dois meios de comunicação do governo. Em Tarija, os enfrentamentos continuaram nesta quarta-feira, e a cidade está praticamente paralisada pelos confrontos. Em vários pontos, há bloqueios de estradas.
Na fronteira com o Brasil, o posto da Receita Federal de Corumbá (MS) informou ao G1 que a passagem de pessoas e caminhões só é permitida até a cidade de Puerto Suarez, no departamento de Santa Cruz. "A partir deste ponto, ninguém está podendo passar os bloqueios, nem para vir em direção ao Brasil, nem para ir adiante", disse Roberto Mustafa, funcionário da Receita.
"Não vamos responder como eles queriam, porque queriam (na cidade de Santa Cruz) um confronto, uma espécie de guerra civil", como parte de uma estratégia de "golpe de estado civil", afirmou o porta-voz de governo, Iván Canelas.
Ele voltou a chamar os oposicionistas para dialogar e ressaltou o papel "equilibrado" das Forças Armadas, que, segundo ele, não estão aceitando as "provocações" dos oposicionistas e estão "oferecendo a outra face".
Os opositores rejeitam a nova Constituição de cunho estatizante e exigem do governo a devolução de US$ 166 milhões às regiões, que Morales usa para pagar uma bonificação para os idosos.
Sindicatos agrários favoráveis a Evo Morales fizeram nesta quarta-feira fecharam acessos à região opositora de Santa Cruz, o que poderia provocar desabastecimento de alimentos e combustíveis. O principal ponto de bloqueio está em Bulo Bulo, que liga Santa Cruz a Cochabamba e La Paz, e é feito por cocaleiros dos sindicados de Chapare.