Seis dias após as explosões em depósitos com produtos químicos no porto de Tianjin, a cerca de 150 km a sudeste de Pequim, o governo chinês tenta acalmar o temor pela possível contaminação da região enquanto procura os culpados pelo acidente, que deixou ao menos 114 mortos e cerca de 700 feridos.
Nesta terça-feira (18), sem fazer menção ao porto, a comissão do Partido Comunista que investiga casos de corrupção anunciou que o diretor do Departamento Nacional de Segurança do Trabalho, Yang Dongliang, está sob investigação por suspeita de “severa violação da disciplina e da lei”, segundo a agência estatal de notícias Xinhua (Nova China). Yang foi vice-prefeito de Tianjin entre 2001 e 2012.
A agência também informou que dez pessoas foram detidas, incluindo os responsáveis pelo depósito destruído nas explosões de quarta. Além dos mortos e feridos, as explosões deixaram ao menos 57 desaparecidos.
Acidentes como esse não são incomuns no país. Só em 2015, 26 outras explosões em locais de trabalho, somando 65 mortes e 119 feridos, foram registradas pelo Boletim Trabalhista da China (CLB, na sigla em inglês), ONG baseada em Hong Kong.
De acordo com dados oficiais, 68 mil chineses morreram, em 2014, devido a acidentes relacionados ao trabalho. O número vem caindo nos últimos anos, mas ainda é tido como alto.
Como comparação, em 2013, foram 2,8 mil no Brasil, 4,6 mil nos Estados Unidos e 186 na Austrália, segundo as autoridades do trabalho de cada país.
O presidente chinês, Xi Jinping, abordou o problema após as explosões de Tianjin. Segundo a agência estatal chinesa, Xi avalia que acidentes sérios recentes “expõem problemas severos no setor de segurança do trabalho” e que é preciso implementar melhor as regulamentações.
Para Geoffrey Crothall, diretor de comunicação da CLB, o caso de Tianjin pode ser explicado por falta de supervisão e treinamento dos funcionários do depósito, que acumulou grandes quantidades de substância perigosa por muito tempo, e por bombeiros pouco treinados e inexperientes.
Segundo ele, também houve “provavelmente algum tipo de conluio” com autoridades locais para permitir depósitos tão próximos da área residencial.
Desinformação
A pequena distância de prédios residenciais em relação aos depósitos que armazenavam produtos perigosos – como cianeto de sódio, usado na mineração- é, justamente, um dos questionamentos feitos pelos chineses.
Reclamando que desconheciam o perigo em potencial, donos de apartamentos na área querem agora que o governo compre suas propriedades, segundo a imprensa local.
Há, também, muitas dúvidas da população sobre a possível contaminação da água, do ar, do solo e até da chuva – que caiu forte em Tianjin nesta terça.
Segundo a Xinhua, oito das 40 estações de monitoramento de água criadas após o incidente identificaram níveis excessivos de cianeto, e uma repórter da agência de notícias relatou queimação na pele após contato com a chuva.
As autoridades, no entanto, vêm tranquilizando a população a respeito de maiores riscos à saúde.
Segundo a reportagem apurou, mesmo empresas com carga armazenada no porto de Tianjin têm pouca informação sobre se seus produtos foram destruídos com as explosões e sobre o que fazer com a carga que está em navios com destino ao porto afetado.
Sanjiv Pandita, diretor-executivo da ONG Asia Monitor Resource Center, também de Hong Kong, diz que a China enfrenta questões de segurança semelhantes a de outros países em desenvolvimento, cujos produtos baratos são produzidos à custa dos trabalhadores e do meio ambiente.
“É preciso aceitar que o problema enfrentado pela China não é um problema apenas ‘chinês’, mas parte de um sistema global. E, dentro da China, é preciso haver maior divulgação de informação sobre procedimentos de segurança, e práticas seguras precisam ser implementadas rigorosamente.”
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